A
ação da Psicopedagogia na Instituição Escolar.
O
que constitui a identidade da Psicopedagogia é o estudo e a intervenção dos
processos de aprendizagem e define como objeto central da ação do psicopedagogo
o resgate e a identificação com o conhecimento, com o prazer e a possibilidade
de aprender.
Dessa
forma, conforme Macedo (apud ESCOZ, 1991, p.12):
Uma
nova área não surge por acaso {...} representa o preenchimento de um vazio
construído e determinado pelas outras áreas {...} e que seu desejo sincero e humilde,
mas determinado e incessante é o mesmo que anima todas as outras {...}
contribuir individual e coletivamente para uma vida {...} menos injusta, mais
saudável {...}
Na
tentativa de refletir sobre as questões ligadas às aprendizagens é que foi
surgindo o espaço para um trabalho Psicopedagógico na instituição, espaço esse
deixado pelos especialistas em educação e pela psicologia escolar, preocupados
apenas com os campos restritos de atuação, deixando de lado questões mais
amplas sobre a construção de conhecimento na escola.
Assim,
a ação da Psicopedagogia Institucional busca a ressignificação das relações de
aprendizagem na escola e o resgate da identidade da instituição com o
conhecimento, tendo como foco a prevenção das dificuldades de aprendizagem, resgatando
o prazer de aprender.
Esses
aspectos fazem pensar como a escola está estruturada hoje e para que ela serve,
pois o contexto educacional brasileiro traz a marca do fracasso escolar,
principalmente nas classes sociais mais desfavorecidas.
Nesse
sentido, a Psicopedagogia tem um compromisso social, uma vez que seu campo
conceitual vem proporcionar uma nova possibilidade para que a escola reverta
esse fracasso, pois aponta uma visão interdisciplinar que se constrói a partir
do estudo dos atos de aprender e de ensinar, pensando em conjunto, considerando
a realidade interna de cada sujeito quanto à realidade externa.
Para
Bossa (2000), o trabalho Psicopedagógico institucional, na sua função
preventiva, visa a detectar perturbações no processo de aprendizagem,
investigar questões metodológicas, auxiliando o professor a perceber que nem
sempre a sua maneira de ensinar é apropriada à forma de o aluno aprender, além
de colaborar na elaboração do projeto pedagógico e orientar os professores no
acompanhamento do aluno com dificuldade de aprendizagem, contribuindo para que
a escola acompanhe o desenvolvimento da humanidade e se constitua num
verdadeiro espaço de construção de conhecimento.
Segundo
Escortt (2001), o Psicopedagogo Institucional, através de uma fundamentação
teórica consistente e de uma elaboração criteriosa de um diagnóstico, poderá
instrumentalizar os educadores na criação de novos fazeres pedagógicos. Esse
trabalho de construção consiste na leitura e na releitura do processo de
aprendizagem e do processo da não aprendizagem, bem como aplicabilidade e os
conceitos teóricos que lhe dêem novos contornos e significados, gerando
práticas mais consistentes e contribuindo para que o professor resgate o seu
desejo de aprender, em um jogo de troca de lugares de quem ensina e de quem
aprende, pois é o desejo que nos marca como seres humanos.
Talvez
esse novo olhar que a Psicopedagogia lança sobre a instituição escolar,
contribuindo para uma postura mais investigativa em relação às questões do
aprender e do não aprender, permitirá ao educador redimensionar a sua prática,
garantindo a aprendizagem e minimizando o fracasso escolar. Corrobora com essa
afirmação Mendes (1996), quando aponta que:
{...}
essa leitura do que falta e o que fazer para possibilitar que o sofrimento da
falta seja substituído pela busca do prazer em querer mudar, para encontrar
outras opções de ação pedagógica, é o campo da Psicopedagogia dentro da
instituição escolar e um dos aspectos que a distingue da Pedagogia.
Nessa
busca, Scoz (1991) coloca o Psicopedagogo como um dinamizador do processo de
ensino aprendizagem, uma vez que atua como:
{...}
uma liderança competente capaz de atuar junto ao professor e de buscar, com
ele, a sua revalorização {...} um mediador capaz de integrar e sintetizar as
várias áreas do conhecimento junto à equipe escolar {...}. É de fundamental
importância instrumentalizar o professor para lidar com essas questões,
tornando acessíveis os instrumentos necessários para o trabalho com as
dificuldades de aprendizagem. (SCOZ, 1991, p.3).
Portanto,
a presença do psicopedagogo na instituição não é inócua, pois nela se produzem
fantasias das mais diversas. Alguns percebem a sua presença como um
colaborador, para outros, é apenas mais uma exigência da escola; outros o
enxergam como uma figura que vel julgar o trabalho docente, pois, para Butelman
(1998, p.144), “esse saber oculto que por momento é adjudicado ao psicopedagogo
pode promover, em algumas pessoas, a fantasia de que este soluciona magicamente
os problemas, sem que o docente assuma a responsabilidade que tem frente a seu
grupo”.
Para
que isso não ocorra, é necessário que haja um enquadramento de trabalho claro,
objetivando as funções do psicopedagogo, o que facilitará a sua inserção na
instituição escolar, percebendo os mandatos míticos que transitam entre
ensinante e aprendentes, já que:
{...}
a Psicopedagogia tem seu campo na instituição, à medida que consiga criar um
espaço transicional para os ensinantes pensarem sobre a sua prática. Acredito
que esse espaço irá lhes permitir mostrar o potencial escondido, excluindo o
“expiar”, através de uma prática automatizada e sem sentido, para resgatar o
seu potencial, resignificando a sua identidade como aquele que ocupa o lugar de
ensinar, dinamizando a aprendizagem de quem aprende e que também lhe
possibilita a aprender. (MENDES, 1996, p. 75).
Este
é um dos grandes desafios da Psicopedagogia, construir diferentes saberes, que
possam ser socializados, a partir da escuta e do olhar dos processos de ensino
e de aprendizagem (MENDES, 1996), resgatando, assim, uma ação institucional
politicamente comprometida e consciente.
A
proposta da Psicopedagogia Institucional passa prioritariamente por reflexões
sobre as necessidades sociais de determinada instituição, centrando o olhar
sobre a aprendizagem. Dessa maneira, Barbosa (2001, p.21) afirma que:
A
Psicopedagogia na e para a escola, na verdade, é uma das contribuições para que
os novos paradigmas da ciência possam se instalar no interior desta
instituição, possibilitando uma visão e uma ação interdisciplinar, holística,
sistêmica que permitam que o ser humano seja visto como inteiro, como alguém
que pensa, sente, faz e compartilha, e que possibilite que a aprendizagem não
fique restrita a um ato de simples acumulação de informação já pensadas e
concluídas em tempos passados.
Sendo
assim, a Psicopedagogia institucional auxilia na busca da qualidade do processo
de ensino e aprendizagem a partir de um olhar investigativo e de escuta
psicopedagógica, privilegiando o cruzamento de todos os fatores, buscando
identificar as fraturas e incoerências de todo o processo e da dinâmica
institucional.
KOPZINSKI,
Sandra Difini Percurso Psicopedagógico: entre o saber e o fazer.Novo Hamburgo –
Rio Grande do Sul – Brasil 2010 p.27 a
29.
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