EDUCAÇÃO
INCLUSIVA.
Para que as escolas possam acolher a
diversidade do alunado, reconhecendo e valorizando as diferentes capacidades,
competências, habilidades que existem em uma sala de aula, elas precisam ser
revistas inteiramente e mudar suas práticas usuais, marcadas pelo
conservadorismo, excludentes e inadequadas para o alunado que já temos hoje nas
escolas, em todos os seus níveis.
Pensamos que é importante repensar as
práticas de avaliação de aprendizagem. Não podemos continuar pensando em
instrumentos previamente e arbitrariamente estabelecidos pela escola. O aluno
com necessidades educacionais especiais precisa ser acolhido com parâmetros
flexíveis que lhe permitam atingir resultados de forma singular e particular.
Assim deve ter oportunidade de atingir objetivos e poder mostrar
desenvolvimento e mostrar que está apto ou não apto. Pensamos que as
deficiências não podem ser medidas e definidas por si mesmas e mediante
sistemas previamente padronizados por especialistas. Há que se levar em conta
cada situação e estágio que resulta das formas de interação entre as
características do aluno e dos ambientes em que está eventualmente inserido. É
preciso ter acuidade e prestar atenção para que se possam estabelecer espaços
de desenvolvimento adequados a atender as peculiaridades permanentes ou
circunstanciais de cada aluno.
Entendemos que os processos de
aprendizagem e de inclusão de alunos com necessidades especiais não podem
prever mecanicamente a utilização de métodos e técnicas de ensino específicas
para esta ou aquela deficiência, por tabela Os alunos, cada aluno, aprendem até
o limite em que conseguem chegar, se o ensino for de qualidade, isto é, se o
professor considera o nível de possibilidades de desenvolvimento de cada um e
tenta explorar essas possibilidades, por meio de atividades abertas, nas quais
cada aluno pode engajar-se por si mesmo, na medida de seus interesses e necessidade
seja para construir uma ideia, ou resolver um problema, ou realizar uma tarefa.
Eis aí um grande desafio a ser enfrentado pelas escolas regulares tradicionais,
cujo paradigma é condutista, e baseado na transmissão dos conhecimentos.
O processo ideal é aquele em que se acompanha
o percurso de cada estudante, do ponto de vista da evolução de suas competências,
para resolver problemas de toda ordem, mobilizando e aplicando conteúdos
acadêmicos e outros meios que possam ser úteis para se chegar a soluções
pretendidas; apreciam-se os seus progressos na organização dos estudos, no
tratamento das informações e na participação na vida social da escola.
Mesmo que o aluno não chegue a
aprender exatamente tudo o que comumente os demais alunos aprendem, o que é
provável – pois do contrário não haveria déficit intelectual algum – ainda
assim tem o direito de ser avaliado por aquilo que conseguiu desenvolver e de
chegar ao término do ensino fundamental, que é básico e obrigatório. No ensino
médio, ele poderá além dos cursos tradicionais, optar por cursos
profissionalizantes, cursos para jovens e adultos, que ainda retomem conteúdos
de alfabetização, se necessário.
Para ensinar a turma toda, parte-se
da certeza de que as crianças sempre sabem alguma coisa, de que todo educando pode
aprender, mas no tempo e do jeito que lhe são próprios.· É fundamental que o
professor nutra uma elevada expectativa pelo aluno. O sucesso da aprendizagem está
em explorar talentos, atualizar possibilidades, desenvolver predisposições naturais
de cada aluno. As dificuldades, deficiências e limitações são reconhecidas, mas
não devem conduzir/restringir o processo de ensino, como comumente acontece. Para
ensinar a turma toda, independentemente das diferenças de cada um dos alunos,
temos de passar de um ensino transmissivo para uma pedagogia ativa, dialógica,
interativa, que se contrapõe a toda e qualquer visão unidirecional, de
transferência unitária, individualizada e hierárquica do saber.
Um dos pontos cruciais do ensinar a
turma toda são a consideração da identidade sociocultural dos alunos e a
valorização da capacidade de entendimento que cada um deles tem do mundo e de
si mesmos. Nesse sentido, ensinar a turma toda reafirma a necessidade de se
promover situações de aprendizagem que formem um “tecido colorido” de
conhecimento, cujos fios expressam diferentes possibilidades de interpretação e
de entendimento de um grupo de pessoas que atua cooperativamente. Sem
estabelecer uma referência, sem buscar o consenso, mas investindo nas diferenças
e na riqueza de um ambiente que confronta significados, desejos, experiências,
o professor deve garantir a liberdade e a diversidade das opiniões dos alunos.
Nesse sentido, ele deverá propiciar oportunidade para o aluno aprender a partir
do que sabe e chegar até onde é capaz de progredir. Afinal, aprendemos quando
resolvemos nossas dúvidas, superamos nossas incertezas e satisfazemos nossa
curiosidade.
Para melhorar a qualidade do ensino e
para se conseguir trabalhar com as diferenças nas salas de aula é preciso que
enfrentemos os desafios da inclusão escolar, sem fugir das causas do fracasso e
da exclusão desconsiderando as soluções paliativas, sugeridas para esse fim. As
medidas comumente indicadas para combater a exclusão não promovem mudanças e
visam mais neutralizar os desequilíbrios criados pela heterogeneidade das
turmas do que potencializá-los, até que se tornem insustentáveis, obrigando as
escolas a buscar novos caminhos educacionais, que, de fato, atendam à
pluralidade do coletivo escolar. Resumindo podemos dizer que uma escola que
reconhece e valoriza as diferenças presentes em suas salas de aula, tem que se
preocupar em trabalhar com os conteúdos, de modo que possam ser aprendidos de
acordo com a capacidade e ritmo de cada um. Mas enquanto os professores do
ensino escolar, especialmente os do nível fundamental, persistirem em práticas
que não reconhecem e valorizam as diferenças na escola, não teremos condições
de ensinar a turma toda.
Temos que pensar em uma educação
global inclusiva não só na estrutura ou no conhecimento, ou na própria escola,
mas que tragam os intelectuais, que pensam e produzem conhecimento para a
escola, a trabalhar pelo processo de inclusão escolar. Para que esses teóricos
produzam métodos, técnicas e práticas que levem em conta a diversidade de
indivíduos com suas limitações e potencialidades e não acabem jogando esses
educandos para a margem do conhecimento, simplesmente por não poderem
participar ou interagir com as atividades propostas.
Educação inclusiva,
deficiência e contexto social: questões contemporâneas/ Féliz Díaz,
Miguel Bordas, Nelma
Galvão, Theresinha Miranda, organizadores; autores, Elias
Souza dos Santos
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