HUMILDADE
Humildade é conhecer os próprios limites. Aceitar que sabe algo de modo
imperfeito, incompleto, que, a qualquer momento, pode ser questionado,
reformulado e mesmo superado.
E, nessa atitude, estar sempre à procura de novos elementos para
reforçar, esclarecer o que se julga saber. Encontrando-os, ter a coragem de
cotejá-los, incorporá-los, mesmo que isso signifique ter que abandonar a
satisfação e a segurança pessoal. Aceitar que o outro, embora pareça simples e
ignorante, também sabe algo. Que todos podem sempre, de alguma forma,
contribuir para enriquecer o conhecimento. Que se aprende com o aluno, com o
colega, com o dito leigo na matéria. A humildade facilita o conhecimento, uma vez
que este não tem fronteiras sagradas, zonas obscuras. A pesquisa, a aprendizagem
sempre apontam para todos os lados, no espaço e no tempo. Quando alguém julga
que aprendeu é porque não aprendeu nada, está ainda começando, pois sequer sabe
que não sabe. O verdadeiro sábio, o humilde aprendiz é aquele que, tendo feito
tudo o que julga necessário e pertinente, é capaz de dizer, parafraseando o
Evangelho: Sou um servo inútil. E até mais, como diziam os latinos: Fiz o que
pude. Façam mais e melhor os que puderem.
MUDANÇA.
Segundo Gusdorf (1967), a mudança é o motor da transformação do homem:
ao tomar consciência de sua situação na sociedade e no tempo, descobre
exigências fundamentais de sua existência e, ao obedecer, conformar-se ou
submeter-se, acaba por negar o seu direito à escolha, ao exercício da vontade
própria. Mudar não é deixar-se levar como um navio à deriva: é se autogovernar
em meio às circunstâncias, às tempestades, exercitando, de forma consciente, as
possibilidades. A força da verdadeira mudança não exclui fragilidade. Todo
homem tem seus pontos fracos, e percebê-los representa a possibilidade de
superação. Neste sentido, o impulso necessário a qualquer processo de mudança
não é exterior ao homem, mas está nele, levando-o a superar os seus limites. Nesse
processo, a tomada de consciência e o respeito aos valores éticos passam a ser
referências para o restabelecimento do equilíbrio comprometido. Mudar significa
(re) visão de atitude e posicionamento perante o mundo e a
realidade, passagem, um movimento, entre um velho que se extingue e um novo que,
gradativamente, adquire forma. Esse movimento carrega em si duas forças
antagônicas, uma que busca a realização e outra que reafirma os valores
construídos e, por isso, persiste...
Mudança e prática pedagógica.
O constante movimento de (re)estruturação é inerente à
condição humana. Nele se alteram a harmonia e o conflito, a dinâmica e a
estática, a convivência e o isolamento, a ação e a inércia. Assumir uma atitude
frente à mudança é ter consciência de que esse processo se inicia com a busca
do eu interior para, a partir dele, compreender o mundo exterior. É estar
aberto frente ao desconhecido, ao inesperado e ao imprevisível.
Mais do que grandes inovações, mudar é construir um trabalho coerente
com a realidade e as necessidades dos alunos, numa época marcada por grandes
contradições, de apelo ao uso de novas e sofisticadas tecnologias. A mudança
pode ter início em situações mais simples, nem por isso menos importantes.
Ampliar as possibilidades de entendimento entre as pessoas, (re)introduzir
valores como ética e respeito ao outro, ao diferente podem representar o (re)início
de um novo tempo. (Re)introduzir a dimensão do prazer, do
resgate da auto-estima pode se constituir verdadeiros detonadores de processos
de mudança. Neste sentido, as escolas devem se tornar espaços fascinantes para
o aluno aí levar, a cada dia, suas curiosidades e daí retornar com novas
descobertas e possibilidades. Se, no entanto, suas indagações ficam sem
respostas e suas esperanças se desfazem, como esperar ações capazes de gerar
mudanças, de transformar a realidade?
Para
Paulo Freire, não
"é possível pensar em transformar o mundo sem sonho, sem utopia ou
sem projeto (...). Os sonhos são projetos pelos quais se luta. Sua realização
não se verifica facilmente, sem obstáculos. Implica, pelo contrário, avanços,
recuos, marchas, às vezes demoradas" (2000: 54).
Dicionário
em construção : interdisciplinaridade / Ivani C. A.
Fazenda
(org.). - 2. ed. - São Paulo : Cortez, 2002
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