PSICOPEDAGOGIA E A
APRENDIZAGEM.
Discutimos que aprender não é um
processo patológico; no entanto, nas instituições de ensino, qualquer
desequilíbrio experimentado no processo de aprendizagem corre o risco de ser
considerado um fenômeno a ser estudado por especialistas. Isto ocorre não pela
ignorância dos profissionais da escola, mas pela idéia, depositada no interior
da instituição escolar, de que o conhecimento especifico é propriedade de uma
determinada área especializada. Esta crença, que até hoje faz parte da cultura
escolar, fez e faz com que tais profissionais não se sintam parte do trabalho
voltado às dificuldades de aprendizagem, além de ter depositado e depositar nos
especialistas a esperança de que o aluno com dificuldades seja “curado” por
eles.
A Psicopedagogia na e para a
escola, na verdade, é uma das contribuições para que os novos paradigmas da
ciência possam se instalar no interior desta instituição, possibilitando uma
visão e uma ação interdisciplinar, holística, sistêmica que permitam que o ser
humano seja visto como inteiro, como alguém que pensa, sente, faz e
compartilha, e que possibilite que a aprendizagem não fique restrita a um ato
de simples acumulação de informações já pensadas e concluídas em tempos
passados.
Quando dizemos que a Psicopedagogia
se preocupa com o ser completo, que aprende, não podemos esquecer que faz parte
da compleitude deste ser a capacidade de aprender em interação com aquilo ou
aquele que ensina; e que a ação de ensinar não é sempre exercida pelo professor,
assim como a de aprender não é de responsabilidade somente do aluno.
Pensando nisto é que acreditamos
que uma ação psicopedagógica na escola
deve envolver a dinâmica escolar como um todo, intervindo nas várias
instâncias da mesma, quando isto se fizer necessário, preocupada em como o
conhecimento transita, como é apresentado, assimilado, transformado e utilizado
no processo de ensinar/aprender.
A verdade é que a Psicopedagogia
não surgiu para ocupar o lugar da Pedagogia e nem criticá-la, mas sim
corroborar os conhecimentos sobre o aspecto ensino/aprendizagem, utilizando-se
de uma visão totalizadora deste processo e desenvolvendo instrumentos
diagnósticos e de intervenção próprios, que poderão auxiliar a Pedagogia a
enfrentar as mudanças que se fazem necessária nesta transição para o novo
século.
Esta intenção, no entanto, não
pode ser colocada em prática se não
houver um pensar “grande” e “pequeno” ao mesmo tempo, pois não se chega à
transformação se no pequeno espaço da sala de aula não for possível colocar o
discurso em ação.
A Psicopedagogia no âmbito
institucional pode desenvolver uma prática que aborde o ensino/aprendizagem
dentro da escola, visando a administração das mudanças necessárias, colaborando
para que a escola não encare as mesmas como mais algumas “modas educacionais”,
e sim como a transformação do que já existe, a fim de que não se regrida na
história e efetive-se o avanço.
É preciso que saibamos, no entanto, que a Psicopedagogia não é mágica e
nem poderosa, capaz de propiciar a todos estes benefícios sozinha. É
preciso que ela seja vista como uma possibilidade de colaboração para a
instituição escolar, neste momento em que se impõe a transformação da escola.
A identificação das causas dos
problemas de aprendizagem escolar requer uma intervenção especializada. Muito
embora o aprender seja um processo natural, resulta de uma complexa atividade
mental, na qual estão envolvidos processos de pensamento, percepção, emoção,
memória, motricidade, mediação, conhecimento prévios, etc.
Os psicopedagogos são, portanto,
profissionais preparados para a prevenção, o diagnóstico e o tratamento dos
problemas de aprendizagem escolar. Para realizar o diagnóstico clínico, o
psicopedagogo utiliza recursos como testes, desenhos, histórias, atividades
pedagógicas, jogos, brinquedos, etc. Esses recursos se constituem num
importante instrumento de linguagem e revelam dados sobre a nossa vida, que
muitas vezes são segredos para nós mesmos.
Na escola, o psicopedagogo
institucional vai atuar junto aos professores e outros profissionais para
melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção
dos problemas de aprendizagem. Por isso, é muito importante que a escola tenha
um psicopedagogo institucional.
É essencial que o psicopedagogo
tenha em mente em estabelecer com o professor uma relação de troca. Ele tem
muito a contribuir no diagnóstico psicopedagógico e é personagem fundamental no
processo de intervenção. O inverso também é verdadeiro: o professor deve
lembrar que o psicopedagogo muito pode ajudar na difícil tarefa de ensinar.
Sabemos que ao tratar a questão
dos problemas de aprendizagem escolar temos que considerar as dificuldades da
criança na escola e as dificuldades da escola com as crianças, visto que essas
duas dimensões devem ser analisadas reciprocamente. Detendo-nos um pouco nas
questões relacionadas à criança, vamos distinguir entre as possibilidades de
aprender e o desejo de aprender.
As possibilidades de aprender
referem-se às condições físicas e psíquicas da criança, e, neste sentido, nossa
prática nos permite afirmar que um reduzido número de crianças não dispõe do
equipamento neurofisiológico básico necessário a uma boa aprendizagem. Em
relação às condições psíquicas devemos considerar a questão dos recursos
cognitivos. Na verdade os recursos cognitivos são decorrentes da própria
evolução e maturação do equipamento neurofisiológico de base. Isso quer dizer:
a própria estrutura do sistema nervoso central, o equipamento genérico que a
determina, as alterações de sua embriogênese e o processo de maturação
individual. Sabemos hoje que algumas aquisições cognitivas só são possíveis em
fases genéricas de particular sensibilidade. Passada essa fase privilegiada,
a aquisição torna-se impossível ou fica
prejudicada.
Existem, portanto, momentos propícios,
nos quais o meio deve estimular a aquisição de funções cognitivas que serão
pré-requisitos para as aprendizagens escolares. Devemos lembrar, neste ponto, o
principio fundamental da teoria de Piaget, que coloca o desenvolvimento normal
da inteligência como uma sucessão estritamente invariável de fases (
sensório-motora,pré-operatória,operatória concreta e formal), na qual o acesso
à fase seguinte necessita da integração da fase precedente, sendo que qualquer
perturbação numa fase acarreta perturbação na seguinte.
Os aspecto citados referem-se, ao
que nesta nota chamamos possibilidade de aprender. No entanto, afirmamos que
analisar os problemas de aprendizagem, do ponto de vista da criança, implica
considerar ainda o desejo de aprender. Trata-se da energia necessária ao bom
funcionamento cognitivo. Para uma melhor compreensão vamos fazer uma analogia.
Sabemos que um automóvel só pode andar com motor e combustível. O motor, de
acordo com nossa analogia seria o equivalente à energia, ou seja, à afetividade
que vai determinar o desejo de aprender.
Segundo Piaget, a afetividade é
concebida com intencionalidade, como pulsão de agir e fornece a energia
necessária às funções cognitivas. Para o referido autor, a afetividade atribui
um valor às atividades e regula a energia. Isso quer dizer que as incontáveis
atuações da criança frente ao mundo têm um sentido que as motivam. Em cada
momento, a criança interage com a realidade externa construindo conhecimento,
porém impulsionada por razões de ordem afetiva. Por exemplo, uma criança pode
desejar aprender a ler porque agradaria seus pais. Desta forma, faz um
superinvestimento energético nas funções cognitivas envolvidas nesta
aprendizagem. Portanto, os aspectos do mundo afetivo definiram a importância do
trabalho intelectual.
Por outro lado, uma criança pode
não desejar aprender a ler e a escrever, por não querer perder o lugar de bebê
na família. Então, fará pouco investimento energético para o trabalho cognitivo
necessário à tal aprendizagem. Logo, podemos dizer que tem o motor, mas falta o
combustível para pôr o processo em ação.
Sabemos que o sentido das
aprendizagens é único e particular na vida de cada um, e que inúmeros são os
fatores afetivos- emocionais que podem impedir o investimento energético
necessário às aquisições escolares.
A intervenção psicopedagógica nas
escolas deve dirigir seu olhar simultaneamente para seis instâncias:
a)
Ao sujeito aprendente que sustenta cada aluno;
b)
Ao sujeito ensinante que habita e nutre cada
aluno;
c)
À relação particular do professor com seu grupo
e com seus alunos;
d)
À modalidade de aprendizagem do professor e, em
conseqüência, à sua modalidade de ensino;
e)
Ao grupo de pares real e imaginário a que
pertence o professor;
f)
Ao sistema educativo como um todo.
E, nessas seis instâncias, deve dirigir
um olhar para a circulação singular de conhecimento que se estabeleceu entre os
diversos personagens e o conhecimento.
BIBLIOGRAFIA.
( FERNANDEZ, Alicia. Os idiomas
do aprendente (recursos eletrônico); análise das modalidade ensinantes com
famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2007.
BOSSA, Nadia A. Dificuldades de
aprendizagem: oque são?Como tratá-las?
Porto Alegre 2007 Editora Artmed.
Nenhum comentário:
Postar um comentário