O
QUE SÃO DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM?
Embora as dificuldades
de aprendizagem tenham-se tornado o foco de pesquisa mais intensa nos últimos
anos, elas ainda são pouco entendidas pelo público em geral. As informações
sobre dificuldades de aprendizagem têm tido uma penetração tão lenta que os
enganos são abundantes até mesmo entre professores e outros profissionais da
educação. Não é difícil entender a confusão. Para começo de conversa, o termo dificuldade de aprendizagem refere-se
não a um único distúrbio, mas a uma ampla gama de problemas que podem afetar qualquer área do desempenho
acadêmico. Raramente, elas podem ser atribuídas a uma única causa: muitos
aspectos diferentes podem prejudicar o funcionamento cerebral, e os problemas
psicológicos dessas crianças freqüentemente são complicados, até certo ponto,
por seu ambiente doméstico e escolar. As dificuldades de aprendizagem podem ser
divididas em tipos gerais, mas uma vez que, com freqüência, ocorrem em
combinações – e também variam imensamente em gravidade -, pode ser muito
difícil perceber o que os estudantes agrupados sob esse rótulo têm em comum.
Na realidade, as dificuldades de aprendizagem
são normalmente tão sutis que essas crianças não parecem ter problema algum.
Muitas crianças com dificuldade de aprendizagem têm inteligência na faixa de
média a superior, e o que em geral é mais óbvio nelas é que são capazes (mesmo
que excepcionalmente) em algumas áreas. Como uma criança pode saber tudo o que
é possível saber sobre dinossauros aos quatro anos, mais ainda ser incapaz de
aprender o alfabeto? Como um aluno que lê três anos à frente do nível de sua
série entrega um trabalho por escrito completamente incompreensível? Como uma
criança pode ler um parágrafo em voz alta impecavelmente e não recordar seu cinco
minutos depois? Não nos admira que os estudantes sejam desatentos,
não-cooperativos ou desmotivados.
Tal discrepância entre
o que parece que a criança deveria ser capaz de fazer e o que ela realmente
faz, contudo, é marca desse tipo de deficiência. O que as crianças com
dificuldades de aprendizagem têm em comum é o baixo desempenho inesperado. Na maior parte do tempo, elas
funcionam de um modo consistente com o que seria esperado de sua capacidade
intelectual e de sua bagagem familiar e educacional, mas dê-lhes certos tipos
de tarefas e seus cérebros parecem “congelar”. Como resultado, seu desempenho
na escola é inconsistente: emparelhadas ou mesmo a frente de suas classes em
algumas áreas, mas atrás em outras. Embora os prejuízos neurológicos possam afetar
qualquer área do funcionamento cerebral, as deficiências que mais tendem a
causar problemas acadêmicos são aquelas que afetam a percepção visual, o processamento da linguagem, a habilidades motoras
finas e a capacidade para focalizar a atenção. Até mesmo deficiências
menores nessas áreas (que podem passar completamente despercebidas em casa)
podem ter um impacto devastador tão logo a criança entre na escola.
Muitas
crianças com dificuldades de aprendizagem também lutam com comportamentos que complicam suas dificuldades na escola. A
mais saliente dessas é a hiperatividade, uma inquietação extrema que afeta 15 a
20% das crianças com dificuldades de aprendizagem. Alguns outros comportamentos
problemáticos em geral observados em pessoas jovens com dificuldades de
aprendizagem são os seguintes:
Fraco alcance da atenção:
A criança distrai-se com facilidade, perde rapidamente o interesse por novas
atividades, pode saltar de uma atividade para outra e, freqüentemente, deixa
projetos ou trabalhos inacabados.
Dificuldade para seguir instruções:
A criança pode pedir ajuda repetidamente, mesmo durante tarefas simples ( “Onde
é mesmo que eu devia colocar isto?” “Como é mesmo que se faz isto?”). Os
enganos são cometidos, porque as instruções não são completamente entendidas.
Imaturidade social:
A criança age como se fosse mais jovem que sua idade cronológica e pode
preferir brincar com crianças menores.
Dificuldade com a conversação: A
criança tem dificuldade em encontrar as palavras certas, ou perambula sem
cessar tentando encontrá-las.
Inflexibilidade:
A criança teima em continuar fazendo as coisas à sua própria maneira, mesmo
quando esta não funciona; ela resiste a sugestões e a oferta de ajuda.
Fraco planejamento e habilidades
organizacionais: A criança não parece ter qualquer
sensação de tempo e, com freqüência, chega atrasada ou despreparada. Se várias
tarefas são dadas (ou uma tarefa completa com várias partes), ela não tem
qualquer idéia por onde começar, ou de como dividir o trabalho em segmentos
manejáveis.
Distração:
A criança freqüentemente perde a lição, as roupas e outros objetos seus;
esquece-se de fazer as tarefas e trabalhos e/ou tem dificuldade em lembrar
compromissos ou ocasiões sociais.
Falta de destreza:
A criança parece desajeitada e sem coordenação; em geral, deixa cair as coisas
ou as derrama, ou apalpa e derruba os objetos; pode ter uma caligrafia péssima;
é vista como completamente inepta em esportes e jogos.
Falta de controle dos impulsos: A
criança toca tudo (ou todos) que prende seu interesse, verbaliza suas
observações sem pensar, interrompe ou muda abruptamente de assunto em conversas
e /ou tem dificuldade para esperar ou reservar-se com outras.
Esses
comportamentos surgem a partir das mesmas condições neurológicas que causam
problemas de aprendizagem. Infelizmente, quando eles não são compreendidos como
tais, só ajudam a convencer os pais e
professores de que a criança não está fazendo um esforço para cooperar ou não
está prestando a devida atenção. Até mesmo os estudantes vêem comportamentos
como esses como defeitos de personalidade. “Eu fiquei muito contente quando
descobri que tinha uma dificuldade de aprendizagem”, lembra uma adolescente. “Até
então eu achava que era apenas uma cabeça de vento imbecil”.
Embora
muitas crianças com dificuldades de aprendizagem sintam-se felizes e bem
ajustadas, algumas (até metade delas, de acordo com estudos atuais) desenvolvem
problemas emocionais relacionados. Esses estudantes tornam-se tão frustrados
tentando fazer coisas que não conseguem que desistem de aprender e começam a
desenvolver estratégias para evitar isso. Eles questionam sua própria
inteligência e começam a achar que não podem ser ajudados. Muitos se sentem
furiosos e põem para fora, fisicamente, tal sensação; outros se tornam ansiosos
e deprimidos. De qualquer modo, essas crianças tendem a isolar-se socialmente
e, com freqüência, sofrem de solidão, bem como de baixa auto- estima.
Eventualmente, os problemas secundários associados a uma dificuldade de
aprendizagem podem tornar-se bem mais óbvios – e mais sérios – que a própria deficiência.
Estudos mostram que adolescentes com dificuldades de aprendizagem não apenas
estão mais propensos a abandonar os estudos, mas também apresentam maior risco
para abuso de substancias, atividade criminosa e até mesmo suicídio.
O ambiente doméstico.
O
ambiente doméstico exerce um importante papel para determinar se qualquer
criança aprende bem ou mal. Um imenso conjunto de pesquisa tem demonstrado que
um ambiente estimulante e encorajador em casa produz estudantes adaptáveis e
muito dispostos a aprender, mesmo entre crianças cuja saúde ou inteligência foi
comprometida de alguma maneira. Um estudo a longo prazo de órgãos mentalmente
retardos , por exemplo, descobriu que o Q.I de crianças adotadas por famílias
de inteligência normal subia mensuravelmente, enquanto a inteligência daquelas
que permaneciam nas instituições, na verdade, declinava com o passar dos anos.
Embora o grupo institucionalizado permanecesse com uma educação insatisfatória
e com subempregos, a maior parte das crianças adotadas terminava o ensino médio
(e um terço delas avançava até a universidade).Estudos com animais tem demonstrados
que um ambiente enriquecido não apenas tem impacto sobre aprendizagem, mas
também estimula o crescimento e o desenvolvimento cerebrais. Os neuropsicólogos
estão começando a acumular evidências fisiológicas de que o cérebro humano
também responde ao “exercício mental”.
Além
disso, as crianças que recebem um incentivo carinhoso durante toda a vida
tendem a ter atitudes positivas, tanto sobre a aprendizagem quanto sobre si
mesmas. Seu espírito de “Eu posso fazer isso” as ajuda a enfrentamentos
desafios e superarem os obstáculos. Essas crianças buscam ou encontram modos de
contornar as deficiências, mesmo quando são bastante graves. “È fácil
reconhecer as crianças que realmente têm famílias envolvidas e incentivadoras”,
diz uma professora de educação especial. “Embora tenham dificuldades de
aprendizagem, elas vêem a si mesmas como basicamente competentes e bem-
sucedidas”.
Ao
contrário, as crianças que foram privadas de um ambiente estimulante nos
primeiros anos enfrentam muitos obstáculos desanimadores, mesmo quando não
apresentam tais deficiências. Esses jovens, em geral, adquirem mais lentamente
as habilidades cognitivas básicas. Eles têm fracas habilidades sociais e tendem
a comunicar-se mal. Não usam suas capacidades intelectuais em seu benefício e
podem mostrar pouca curiosidade ou interesse por aprender, não possuem
autoconfiança. Deficiências como essas colocam as crianças em risco educacional
durante todos os anos de escola. Os estudos têm demonstrado reiteradas vezes
que os alunos emocional e academicamente “prontos”, ao começarem o jardim de
infância, permanecem próximos ao topo em suas classes até o término da escolarização,
enquanto as crianças que entram na escola com atrasos sociais e cognitivos
significativos raramente conseguem igualar-se às outras, mesmo com auxílio
especial.
Não
nos surpreende que as crianças em desvantagem social e educacional também
considerem mais difíceis juntar recursos necessários para superarem
deficiências neurocognitivas. Os alunos com dificuldades de aprendizagem
normalmente usam as áreas em que são mais fortes para compensarem áreas de
fraqueza, mas, aqueles que não tiveram níveis adequados de estímulos e apoio em
casa tem bem menos áreas de recursos às quais recorrer. Além disso, esses
estudantes são menos persistentes que outras crianças, quando encontram
problemas. Os professores observam que eles antecipam o fracasso, parecendo “desistir
antes começar”.
Existem
muitos aspectos do ambiente doméstico
que podem prejudicar a capacidade de uma criança para aprender.As
crianças que não obtêm nutrição alimentar ou sono suficientes obviamente
sofrerão em sua capacidade para concentrar-se e absorver informações. O mesmo
ocorre com crianças que estão freqüentemente
enfermas devido à fraca higiene ou a cuidados médicos abaixo do
aceitável. As crianças criadas por pais ou responsáveis que falam mal o idioma
e aquelas que vêem muita televisão tendem a ter atraso no desenvolvimento da
língua; isso afeta sua capacidade para expressar-se e compreender seus
professores e também as coloca em situação de risco para professores de leitura
e de escrita. Os alunos cujas famílias não conseguem oferecer-lhes os materiais
escolares, um horário previsível para a realização das tarefas em casa e um
local relativamente tranqüilo para o estudo precisam estar excepcionalmente
motivados para aprender; o mesmo ocorre com crianças que vivem com pouco
encorajamento e baixas expectativas. Qualquer um desses fatores pode produzir
de modo significativo as chances de uma criança superar certa dificuldade de
aprendizagem
O
estresse emocional também compromete a capacidade das crianças para aprender.A ansiedade em relação a dinheiro ou
mudança de residência, a discórdia familiar ou doença pode não apenas ser
prejudicial em si mesma, mas com o tempo pode corroer a disposição de uma
criança para confiar, assumir riscos e ser receptiva a novas situações que são
importantes para o sucesso na escola.
O Ambiente na Escola.
A
fim de obterem progresso intelectual, as crianças devem não apenas estarem
prontas e serem capazes de aprender, mas também devem ter oportunidades
apropriadas de aprendizagem. Se o sistema educacional não oferece isso, os
alunos talvez nunca possam desenvolver sua faixa plena de capacidade,
tornando-se efetivamente “deficientes”, embora não haja nada de fisicamente
errado com eles. Infelizmente, muitos alunos devem dar o melhor de si sob
condições menos que ótimas nas escolas de nosso país.
É
lógico que salas de aulas abarrotadas, professores sobrecarregados ou pouco
treinados e suprimentos inadequados de bons matérias didáticos comprometem a
capacidade dos alunos para aprender, Porém, muitas práticas amplamente aceitas
não oferecem variações normais no estilo de aprendizagem. Um aluno cuja
orientação é principalmente visual e exploratória, por exemplo, precisa ver e
tocar as coisas a fim de entendê-las. Esse estudante não se sairá bem com os
professores que “palestram” o tempo todo, não importando o quanto possam ser
inteligentes e interessados por suas matérias. Da mesma forma, uma criança cuja
abordagem à aprendizagem é basicamente reflexiva – isto é, que precisa de tempo
para considerar todos os aspectos de um problema, antes de tentar uma solução –
irá sair-se muito mal em sala de aula onde os alunos são levados apressadamente
de uma tarefa para outra de acordo com os ditames de um currículo rígido.
Para
as crianças com dificuldades de aprendizagem, a rigidez na sala de aula é
fatal. Para progredirem, tais estudantes devem ser encorajados a trabalhar ao
seu próprio modo. Se forem colocados com um professor inflexível sobre tarefas
e testes, ou que usa materiais e método inapropriados às suas necessidades, eles
serão reprovados. Se forem regularmente envergonhados ou penalizados por seus
fracassos (“já que você não terminou seu trabalho, terá que permanecer na sala
durante o intervalo novamente; você deve realmente esforçar-se mais”), os
estudantes provavelmente não permanecerão motivados por muito tempo.
Infelizmente, a perda do interesse pela educação e a falta de autoconfiança
podem continuar afligindo essas crianças mesmo quando mudam para arranjos mais
favoráveis. Dessa forma, o ambiente escolar inapropriado pode levar
deficiências a tornarem-se grandes problemas.
DIFICULDADE DE
APRENDIZAGEM DE A Z CORINNE SMITH LISA
STRICK EDITORA ARTMED. P. 15 edição 1º 2001.