terça-feira, 8 de janeiro de 2013

FIDELIDADE -VINICIUS DE MORAIS



Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento E em
seu louvor hei de espalhar meu canto E rir
meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar
ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive) Que
não seja imortal, posto que é chama Mas que
seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes.



Ivani Fazenda Interdisciplinaridade



HUMILDADE



Humildade é conhecer os próprios limites. Aceitar que sabe algo de modo imperfeito, incompleto, que, a qualquer momento, pode ser questionado, reformulado e mesmo superado.
E, nessa atitude, estar sempre à procura de novos elementos para reforçar, esclarecer o que se julga saber. Encontrando-os, ter a coragem de cotejá-los, incorporá-los, mesmo que isso signifique ter que abandonar a satisfação e a segurança pessoal. Aceitar que o outro, embora pareça simples e ignorante, também sabe algo. Que todos podem sempre, de alguma forma, contribuir para enriquecer o conhecimento. Que se aprende com o aluno, com o colega, com o dito leigo na matéria. A humildade facilita o conhecimento, uma vez que este não tem fronteiras sagradas, zonas obscuras. A pesquisa, a aprendizagem sempre apontam para todos os lados, no espaço e no tempo. Quando alguém julga que aprendeu é porque não aprendeu nada, está ainda começando, pois sequer sabe que não sabe. O verdadeiro sábio, o humilde aprendiz é aquele que, tendo feito tudo o que julga necessário e pertinente, é capaz de dizer, parafraseando o Evangelho: Sou um servo inútil. E até mais, como diziam os latinos: Fiz o que pude. Façam mais e melhor os que puderem.



MUDANÇA.

Segundo Gusdorf (1967), a mudança é o motor da transformação do homem: ao tomar consciência de sua situação na sociedade e no tempo, descobre exigências fundamentais de sua existência e, ao obedecer, conformar-se ou submeter-se, acaba por negar o seu direito à escolha, ao exercício da vontade própria. Mudar não é deixar-se levar como um navio à deriva: é se autogovernar em meio às circunstâncias, às tempestades, exercitando, de forma consciente, as possibilidades. A força da verdadeira mudança não exclui fragilidade. Todo homem tem seus pontos fracos, e percebê-los representa a possibilidade de superação. Neste sentido, o impulso necessário a qualquer processo de mudança não é exterior ao homem, mas está nele, levando-o a superar os seus limites. Nesse processo, a tomada de consciência e o respeito aos valores éticos passam a ser referências para o restabelecimento do equilíbrio comprometido. Mudar significa (re) visão de atitude e posicionamento perante o mundo e a realidade, passagem, um movimento, entre um velho que se extingue e um novo que, gradativamente, adquire forma. Esse movimento carrega em si duas forças antagônicas, uma que busca a realização e outra que reafirma os valores construídos e, por isso, persiste...



Mudança e prática pedagógica.

O constante movimento de (re)estruturação é inerente à condição humana. Nele se alteram a harmonia e o conflito, a dinâmica e a estática, a convivência e o isolamento, a ação e a inércia. Assumir uma atitude frente à mudança é ter consciência de que esse processo se inicia com a busca do eu interior para, a partir dele, compreender o mundo exterior. É estar aberto frente ao desconhecido, ao inesperado e ao imprevisível.

Mais do que grandes inovações, mudar é construir um trabalho coerente com a realidade e as necessidades dos alunos, numa época marcada por grandes contradições, de apelo ao uso de novas e sofisticadas tecnologias. A mudança pode ter início em situações mais simples, nem por isso menos importantes.

Ampliar as possibilidades de entendimento entre as pessoas, (re)introduzir valores como ética e respeito ao outro, ao diferente podem representar o (re)início de um novo tempo. (Re)introduzir a dimensão do prazer, do resgate da auto-estima pode se constituir verdadeiros detonadores de processos de mudança. Neste sentido, as escolas devem se tornar espaços fascinantes para o aluno aí levar, a cada dia, suas curiosidades e daí retornar com novas descobertas e possibilidades. Se, no entanto, suas indagações ficam sem respostas e suas esperanças se desfazem, como esperar ações capazes de gerar mudanças, de transformar a realidade?

Para Paulo Freire, não

"é possível pensar em transformar o mundo sem sonho, sem utopia ou sem projeto (...). Os sonhos são projetos pelos quais se luta. Sua realização não se verifica facilmente, sem obstáculos. Implica, pelo contrário, avanços, recuos, marchas, às vezes demoradas" (2000: 54).


Dicionário em construção : interdisciplinaridade / Ivani C. A.
Fazenda (org.). - 2. ed. - São Paulo : Cortez, 2002

Para uma Pedagogia do Afeto.



Para uma Pedagogia do Afeto.

O alimento ideal para o desenvolvimento do ser humano é o afeto. Sem ele o homem poderá desenvolver neuroses, tornar-se psicótico, apresentar retardamento mental e até morrer. Mesmo assim, ainda hoje a educação vem ignorando esse aspecto essencial ao ser humano, como se para aprender pudéssemos prescindir do afeto, do desejo, da emoção. É como se a aprendizagem fosse algo restrito a sala de aula.

Aprender é condição característica e indispensável à sobrevivência da espécie humana; é, portanto, um ato de vida. Mas em nome de um sujeito epistêmico estudado por Piaget e adotado pela educação, esqueceu-se do particular, daquele sujeito que, ao ser concebido, já é fruto do desejo do outro e que receberá junto com seu nome os sonhos, as fantasias e esperanças desse outro.

A Psicanálise surge, então, como uma possibilidade para resgatar a função do desejo na aprendizagem mostrando caminhos, para aqueles que não aprendem ou não ensinam, sinalizados pela estrela interior de cada um, pois desejo vem da raiz sid que significa estrela. Seguir o desejo é pois seguir a estrela, estar orientado, seguir aprendendo pela vida. Deve-se promover a aprendizagem plena, prazerosa, erotizada pelo desejo de conhecer.

(Márcia Siqueira de Andrade)

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO



O Papel do Psicopedagogo.

Muito se tem discutido sobre o papel do psicopedagogo, sintoma de que o espaço da Psicopedagogia ainda não está definido. Pode-se pensar a Psicopedagogia como o espaço para o qual convergem diferentes áreas do conhecimento cujo campo de atuação seria identificado pelo processo ensino/aprendizagem.

Por outro lado, ao se considerar a questão da aprendizagem como uma característica da espécie humana que tem garantido sua sobrevivência mesmo em condições adversas, desloca-se da sala de aula e da relação professor/aluno a reflexão, os estudos e a atuação dos profissionais que pretendem compreender questões ligadas à aprendizagem. Aprender torna-se ato de vida humana, não de vida escolar.

A Psicopedagogia, neste contexto, deve ser entendida como uma área interdisciplinar que pretende compartilhar as reflexões, pesquisas e atuação dos aspectos relacionados ao processo ensino/aprendizagem.


O psicopedagogo não será, entretanto, aquele profissional que acolhe recortes de diferentes teorias e constrói um novo Frankstein. Não será a Psicologia, mais a Pedagogia numa relação aditiva que dará origem a uma nova disciplina, a Psicopedagogia.

Neste momento em que se discute a interdisciplinaridade nos meios acadêmicos do Brasil, há que se fazer uma pausa para se resgatar a Psicopedagogia como, talvez, a primeira proposta interdisciplinar que apresenta um corpo concreto, palpável e por isso mesmo passível de críticas e reformulações.

A Psicopedagogia cresce e se torna possível ao acolher as diferentes contribuições da Linguística, da Fonoaudiologia, da Nutrição, da Medicina, da Psicologia, da Pedagogia e de tantas outras áreas de autuação numa perspectiva multiplicativa, fecundante onde todos contribuem e aprendem. Este é um exemplo de como a divisão pode ser uma multiplicação. Depende de como e de onde se olha.

Mas a questão da interdisciplinaridade acaba esbarrando numa característica humana exclusivista, territorialista, que prejudica essa possibilidade multiplicativa. O psicopedagogo deve superar esses aspecto, deve aprender a conviver com a falta; mais ainda, o psicopedagogo deve reconhecer a função positiva da ignorância na medida em que só a partir do reconhecimento das limitações, das ausências, da falta de algo pode-se mobilizar e partir em busca da satisfação.

Alicia Fernandez faz uma bela analogia entre o mito da Arvore da Sabedoria e a aprendizagem no seu livro: La sexualidad atrapada de la señorita maestra.7 Aqui se pode fazer uma analogia entre esse mesmo mito, o papel do psicopedagogo e a Psicopedagogia.

Adão e Eva viviam no paraíso, plenamente satisfeitos até que Eva come do fruto da Árvore da Sabedoria e dá a Adão o mesmo fruto. Imediatamente eles se dão conta da diferença sexual, o que equivale dizer da falta e são expulsos do paraíso. A partir daí precisam produzir para sobreviver.

É só à partir da tomada de consciência da falta, que se cria, se constrói se produz. Feliz daquele que pode conviver com suas limitações pois este sim poderá ultrapassá-las através da criação.

A Psicopedagogia assume suas limitações e à partir da busca das respostas às indagações que se faz, não teme transitar por outras áreas, estabelecer parcerias, crescer, se multiplicar como Adão e Eva expulsos do paraíso.

Muitas vezes caberá ao psicopedagogo apontar a falta e a possibilidade de convivência saudável com essa percepção aos seus pacientes, e ele só poderá dar conta dessa tarefa se puder fazer isso consigo mesmo. O psicopedagogo não será, portanto, nem o psicólogo, nem o professor particular, mas será o que falta a cada um deles através de um processo de criação.

 (Márcia Siqueira de Andrade Psicopedagogia Clinica Manual de Aplicação Prática para Diagnóstico de Distúrbios do Aprendizado. 1ª edição 1998)