terça-feira, 8 de janeiro de 2013

PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM



PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM.

Discutimos que aprender não é um processo patológico; no entanto, nas instituições de ensino, qualquer desequilíbrio experimentado no processo de aprendizagem corre o risco de ser considerado um fenômeno a ser estudado por especialistas. Isto ocorre não pela ignorância dos profissionais da escola, mas pela idéia, depositada no interior da instituição escolar, de que o conhecimento especifico é propriedade de uma determinada área especializada. Esta crença, que até hoje faz parte da cultura escolar, fez e faz com que tais profissionais não se sintam parte do trabalho voltado às dificuldades de aprendizagem, além de ter depositado e depositar nos especialistas a esperança de que o aluno com dificuldades seja “curado” por eles.
A Psicopedagogia na e para a escola, na verdade, é uma das contribuições para que os novos paradigmas da ciência possam se instalar no interior desta instituição, possibilitando uma visão e uma ação interdisciplinar, holística, sistêmica que permitam que o ser humano seja visto como inteiro, como alguém que pensa, sente, faz e compartilha, e que possibilite que a aprendizagem não fique restrita a um ato de simples acumulação de informações já pensadas e concluídas em tempos passados.
Quando dizemos que a Psicopedagogia se preocupa com o ser completo, que aprende, não podemos esquecer que faz parte da compleitude deste ser a capacidade de aprender em interação com aquilo ou aquele que ensina; e que a ação de ensinar não é sempre exercida pelo professor, assim como a de aprender não é de responsabilidade somente do aluno.
Pensando nisto é que acreditamos que uma ação psicopedagógica na escola deve envolver a dinâmica escolar como um todo, intervindo nas várias instâncias da mesma, quando isto se fizer necessário, preocupada em como o conhecimento transita, como é apresentado, assimilado, transformado e utilizado no processo de ensinar/aprender.
A verdade é que a Psicopedagogia não surgiu para ocupar o lugar da Pedagogia e nem criticá-la, mas sim corroborar os conhecimentos sobre o aspecto ensino/aprendizagem, utilizando-se de uma visão totalizadora deste processo e desenvolvendo instrumentos diagnósticos e de intervenção próprios, que poderão auxiliar a Pedagogia a enfrentar as mudanças que se fazem necessária nesta transição para o novo século.
Esta intenção, no entanto, não pode ser colocada em prática  se não houver um pensar “grande” e “pequeno” ao mesmo tempo, pois não se chega à transformação se no pequeno espaço da sala de aula não for possível colocar o discurso em ação.
A Psicopedagogia no âmbito institucional pode desenvolver uma prática que aborde o ensino/aprendizagem dentro da escola, visando a administração das mudanças necessárias, colaborando para que a escola não encare as mesmas como mais algumas “modas educacionais”, e sim como a transformação do que já existe, a fim de que não se regrida na história e efetive-se o avanço.
É preciso que saibamos, no entanto, que a Psicopedagogia não é mágica e nem poderosa, capaz de propiciar a todos estes benefícios sozinha. É preciso que ela seja vista como uma possibilidade de colaboração para a instituição escolar, neste momento em que se impõe a transformação da escola.
A identificação das causas dos problemas de aprendizagem escolar requer uma intervenção especializada. Muito embora o aprender seja um processo natural, resulta de uma complexa atividade mental, na qual estão envolvidos processos de pensamento, percepção, emoção, memória, motricidade, mediação, conhecimento prévios, etc.
Os psicopedagogos são, portanto, profissionais preparados para a prevenção, o diagnóstico e o tratamento dos problemas de aprendizagem escolar. Para realizar o diagnóstico clínico, o psicopedagogo utiliza recursos como testes, desenhos, histórias, atividades pedagógicas, jogos, brinquedos, etc. Esses recursos se constituem num importante instrumento de linguagem e revelam dados sobre a nossa vida, que muitas vezes são segredos para nós mesmos.
Na escola, o psicopedagogo institucional vai atuar junto aos professores e outros profissionais para melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos problemas de aprendizagem. Por isso, é muito importante que a escola tenha um psicopedagogo institucional.
É essencial que o psicopedagogo tenha em mente em estabelecer com o professor uma relação de troca. Ele tem muito a contribuir no diagnóstico psicopedagógico e é personagem fundamental no processo de intervenção. O inverso também é verdadeiro: o professor deve lembrar que o psicopedagogo muito pode ajudar na difícil tarefa de ensinar.
Sabemos que ao tratar a questão dos problemas de aprendizagem escolar temos que considerar as dificuldades da criança na escola e as dificuldades da escola com as crianças, visto que essas duas dimensões devem ser analisadas reciprocamente. Detendo-nos um pouco nas questões relacionadas à criança, vamos distinguir entre as possibilidades de aprender e o desejo de aprender.
As possibilidades de aprender referem-se às condições físicas e psíquicas da criança, e, neste sentido, nossa prática nos permite afirmar que um reduzido número de crianças não dispõe do equipamento neurofisiológico básico necessário a uma boa aprendizagem. Em relação às condições psíquicas devemos considerar a questão dos recursos cognitivos. Na verdade os recursos cognitivos são decorrentes da própria evolução e maturação do equipamento neurofisiológico de base. Isso quer dizer: a própria estrutura do sistema nervoso central, o equipamento genérico que a determina, as alterações de sua embriogênese e o processo de maturação individual. Sabemos hoje que algumas aquisições cognitivas só são possíveis em fases genéricas de particular sensibilidade. Passada essa fase privilegiada, a  aquisição torna-se impossível ou fica prejudicada.
Existem, portanto, momentos propícios, nos quais o meio deve estimular a aquisição de funções cognitivas que serão pré-requisitos para as aprendizagens escolares. Devemos lembrar, neste ponto, o principio fundamental da teoria de Piaget, que coloca o desenvolvimento normal da inteligência como uma sucessão estritamente invariável de fases ( sensório-motora,pré-operatória,operatória concreta e formal), na qual o acesso à fase seguinte necessita da integração da fase precedente, sendo que qualquer perturbação numa fase acarreta perturbação na seguinte.
Os aspecto citados referem-se, ao que nesta nota chamamos possibilidade de aprender. No entanto, afirmamos que analisar os problemas de aprendizagem, do ponto de vista da criança, implica considerar ainda o desejo de aprender. Trata-se da energia necessária ao bom funcionamento cognitivo. Para uma melhor compreensão vamos fazer uma analogia. Sabemos que um automóvel só pode andar com motor e combustível. O motor, de acordo com nossa analogia seria o equivalente à energia, ou seja, à afetividade que vai determinar o desejo de aprender.
Segundo Piaget, a afetividade é concebida com intencionalidade, como pulsão de agir e fornece a energia necessária às funções cognitivas. Para o referido autor, a afetividade atribui um valor às atividades e regula a energia. Isso quer dizer que as incontáveis atuações da criança frente ao mundo têm um sentido que as motivam. Em cada momento, a criança interage com a realidade externa construindo conhecimento, porém impulsionada por razões de ordem afetiva. Por exemplo, uma criança pode desejar aprender a ler porque agradaria seus pais. Desta forma, faz um superinvestimento energético nas funções cognitivas envolvidas nesta aprendizagem. Portanto, os aspectos do mundo afetivo definiram a importância do trabalho intelectual.
Por outro lado, uma criança pode não desejar aprender a ler e a escrever, por não querer perder o lugar de bebê na família. Então, fará pouco investimento energético para o trabalho cognitivo necessário à tal aprendizagem. Logo, podemos dizer que tem o motor, mas falta o combustível para pôr o processo em ação.
Sabemos que o sentido das aprendizagens é único e particular na vida de cada um, e que inúmeros são os fatores afetivos- emocionais que podem impedir o investimento energético necessário às aquisições escolares.
A intervenção psicopedagógica nas escolas deve dirigir seu olhar simultaneamente para seis instâncias:
a)      Ao sujeito aprendente que sustenta cada aluno;
b)      Ao sujeito ensinante que habita e nutre cada aluno;
c)       À relação particular do professor com seu grupo e com seus alunos;
d)      À modalidade de aprendizagem do professor e, em conseqüência, à sua modalidade de ensino;
e)      Ao grupo de pares real e imaginário a que pertence o professor;
f)       Ao sistema educativo como um todo.
E, nessas seis instâncias, deve dirigir um olhar para a circulação singular de conhecimento que se estabeleceu entre os diversos personagens e o conhecimento.



BIBLIOGRAFIA.

( FERNANDEZ, Alicia. Os idiomas do aprendente (recursos eletrônico); análise das modalidade ensinantes com famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2007.

BOSSA, Nadia A. Dificuldades de aprendizagem: oque são?Como tratá-las?
Porto Alegre 2007  Editora Artmed.

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