terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Ivani Fazenda Interdisciplinaridade



HUMILDADE



Humildade é conhecer os próprios limites. Aceitar que sabe algo de modo imperfeito, incompleto, que, a qualquer momento, pode ser questionado, reformulado e mesmo superado.
E, nessa atitude, estar sempre à procura de novos elementos para reforçar, esclarecer o que se julga saber. Encontrando-os, ter a coragem de cotejá-los, incorporá-los, mesmo que isso signifique ter que abandonar a satisfação e a segurança pessoal. Aceitar que o outro, embora pareça simples e ignorante, também sabe algo. Que todos podem sempre, de alguma forma, contribuir para enriquecer o conhecimento. Que se aprende com o aluno, com o colega, com o dito leigo na matéria. A humildade facilita o conhecimento, uma vez que este não tem fronteiras sagradas, zonas obscuras. A pesquisa, a aprendizagem sempre apontam para todos os lados, no espaço e no tempo. Quando alguém julga que aprendeu é porque não aprendeu nada, está ainda começando, pois sequer sabe que não sabe. O verdadeiro sábio, o humilde aprendiz é aquele que, tendo feito tudo o que julga necessário e pertinente, é capaz de dizer, parafraseando o Evangelho: Sou um servo inútil. E até mais, como diziam os latinos: Fiz o que pude. Façam mais e melhor os que puderem.



MUDANÇA.

Segundo Gusdorf (1967), a mudança é o motor da transformação do homem: ao tomar consciência de sua situação na sociedade e no tempo, descobre exigências fundamentais de sua existência e, ao obedecer, conformar-se ou submeter-se, acaba por negar o seu direito à escolha, ao exercício da vontade própria. Mudar não é deixar-se levar como um navio à deriva: é se autogovernar em meio às circunstâncias, às tempestades, exercitando, de forma consciente, as possibilidades. A força da verdadeira mudança não exclui fragilidade. Todo homem tem seus pontos fracos, e percebê-los representa a possibilidade de superação. Neste sentido, o impulso necessário a qualquer processo de mudança não é exterior ao homem, mas está nele, levando-o a superar os seus limites. Nesse processo, a tomada de consciência e o respeito aos valores éticos passam a ser referências para o restabelecimento do equilíbrio comprometido. Mudar significa (re) visão de atitude e posicionamento perante o mundo e a realidade, passagem, um movimento, entre um velho que se extingue e um novo que, gradativamente, adquire forma. Esse movimento carrega em si duas forças antagônicas, uma que busca a realização e outra que reafirma os valores construídos e, por isso, persiste...



Mudança e prática pedagógica.

O constante movimento de (re)estruturação é inerente à condição humana. Nele se alteram a harmonia e o conflito, a dinâmica e a estática, a convivência e o isolamento, a ação e a inércia. Assumir uma atitude frente à mudança é ter consciência de que esse processo se inicia com a busca do eu interior para, a partir dele, compreender o mundo exterior. É estar aberto frente ao desconhecido, ao inesperado e ao imprevisível.

Mais do que grandes inovações, mudar é construir um trabalho coerente com a realidade e as necessidades dos alunos, numa época marcada por grandes contradições, de apelo ao uso de novas e sofisticadas tecnologias. A mudança pode ter início em situações mais simples, nem por isso menos importantes.

Ampliar as possibilidades de entendimento entre as pessoas, (re)introduzir valores como ética e respeito ao outro, ao diferente podem representar o (re)início de um novo tempo. (Re)introduzir a dimensão do prazer, do resgate da auto-estima pode se constituir verdadeiros detonadores de processos de mudança. Neste sentido, as escolas devem se tornar espaços fascinantes para o aluno aí levar, a cada dia, suas curiosidades e daí retornar com novas descobertas e possibilidades. Se, no entanto, suas indagações ficam sem respostas e suas esperanças se desfazem, como esperar ações capazes de gerar mudanças, de transformar a realidade?

Para Paulo Freire, não

"é possível pensar em transformar o mundo sem sonho, sem utopia ou sem projeto (...). Os sonhos são projetos pelos quais se luta. Sua realização não se verifica facilmente, sem obstáculos. Implica, pelo contrário, avanços, recuos, marchas, às vezes demoradas" (2000: 54).


Dicionário em construção : interdisciplinaridade / Ivani C. A.
Fazenda (org.). - 2. ed. - São Paulo : Cortez, 2002

Nenhum comentário:

Postar um comentário