terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO



O Papel do Psicopedagogo.

Muito se tem discutido sobre o papel do psicopedagogo, sintoma de que o espaço da Psicopedagogia ainda não está definido. Pode-se pensar a Psicopedagogia como o espaço para o qual convergem diferentes áreas do conhecimento cujo campo de atuação seria identificado pelo processo ensino/aprendizagem.

Por outro lado, ao se considerar a questão da aprendizagem como uma característica da espécie humana que tem garantido sua sobrevivência mesmo em condições adversas, desloca-se da sala de aula e da relação professor/aluno a reflexão, os estudos e a atuação dos profissionais que pretendem compreender questões ligadas à aprendizagem. Aprender torna-se ato de vida humana, não de vida escolar.

A Psicopedagogia, neste contexto, deve ser entendida como uma área interdisciplinar que pretende compartilhar as reflexões, pesquisas e atuação dos aspectos relacionados ao processo ensino/aprendizagem.


O psicopedagogo não será, entretanto, aquele profissional que acolhe recortes de diferentes teorias e constrói um novo Frankstein. Não será a Psicologia, mais a Pedagogia numa relação aditiva que dará origem a uma nova disciplina, a Psicopedagogia.

Neste momento em que se discute a interdisciplinaridade nos meios acadêmicos do Brasil, há que se fazer uma pausa para se resgatar a Psicopedagogia como, talvez, a primeira proposta interdisciplinar que apresenta um corpo concreto, palpável e por isso mesmo passível de críticas e reformulações.

A Psicopedagogia cresce e se torna possível ao acolher as diferentes contribuições da Linguística, da Fonoaudiologia, da Nutrição, da Medicina, da Psicologia, da Pedagogia e de tantas outras áreas de autuação numa perspectiva multiplicativa, fecundante onde todos contribuem e aprendem. Este é um exemplo de como a divisão pode ser uma multiplicação. Depende de como e de onde se olha.

Mas a questão da interdisciplinaridade acaba esbarrando numa característica humana exclusivista, territorialista, que prejudica essa possibilidade multiplicativa. O psicopedagogo deve superar esses aspecto, deve aprender a conviver com a falta; mais ainda, o psicopedagogo deve reconhecer a função positiva da ignorância na medida em que só a partir do reconhecimento das limitações, das ausências, da falta de algo pode-se mobilizar e partir em busca da satisfação.

Alicia Fernandez faz uma bela analogia entre o mito da Arvore da Sabedoria e a aprendizagem no seu livro: La sexualidad atrapada de la señorita maestra.7 Aqui se pode fazer uma analogia entre esse mesmo mito, o papel do psicopedagogo e a Psicopedagogia.

Adão e Eva viviam no paraíso, plenamente satisfeitos até que Eva come do fruto da Árvore da Sabedoria e dá a Adão o mesmo fruto. Imediatamente eles se dão conta da diferença sexual, o que equivale dizer da falta e são expulsos do paraíso. A partir daí precisam produzir para sobreviver.

É só à partir da tomada de consciência da falta, que se cria, se constrói se produz. Feliz daquele que pode conviver com suas limitações pois este sim poderá ultrapassá-las através da criação.

A Psicopedagogia assume suas limitações e à partir da busca das respostas às indagações que se faz, não teme transitar por outras áreas, estabelecer parcerias, crescer, se multiplicar como Adão e Eva expulsos do paraíso.

Muitas vezes caberá ao psicopedagogo apontar a falta e a possibilidade de convivência saudável com essa percepção aos seus pacientes, e ele só poderá dar conta dessa tarefa se puder fazer isso consigo mesmo. O psicopedagogo não será, portanto, nem o psicólogo, nem o professor particular, mas será o que falta a cada um deles através de um processo de criação.

 (Márcia Siqueira de Andrade Psicopedagogia Clinica Manual de Aplicação Prática para Diagnóstico de Distúrbios do Aprendizado. 1ª edição 1998)

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