Não. Ela é um novo conhecimento
que nasce a partir da interseção, é a própria interseção. Isso significa que
tanto destas disciplinas, quanto de outras como: filosofia, linguística etc.são
selecionados conhecimentos específicos que colaboram na compreensão do objeto
da Psicopedagogia (que é o processo de aprendizagem, como constrói o
conhecimento) dessa forma, quem fez curso específico de Psicologia, e de
Pedagogia, não encontrará necessariamente a Psicopedagogia.
Ela é uma ação que nasce desse
conhecimento interdisciplinar, mas essa ação é voltada para subsidiar o sujeito
cada vez mais em sua própria aprendizagem, nesse sentido, o processo de
aprendizagem é que é estudado criteriosamente pela Psicopedagogia, bem como as
dificuldades dela decorrente.
Qual
o objeto de estudo da Psicopedagogia?
O objeto de estudo é o processo
de aprendizagem, o processo utilizado pelo sujeito enquanto construtor de seu
conhecimento. Algumas pessoas, ao estudarem aprendizagem, entendem que o
contrário da aprendizagem é a dificuldade da aprendizagem, mas não entendo
desta forma, o contrário da aprendizagem é a não aprendizagem.
As
causas da não aprendizagem podem ser de três naturezas distintas:
a) Não
aprendem porque não passaram por um processo sistêmico de ensino;
b) Foram
ensinadas, mas por algum motivo externo ao sujeito (didática do professor,
filosofia da escola, número de alunos por classe, problema sociais, culturais
etc.), não aprenderam;
c) Finalmente
não aprenderam por dificuldades individuais especificas (orgânica e emocional).
Cabe ao psicopedagogo
inicialmente diferenciar as situações facilitadoras/dificultadoras pelas quais
as pessoas passaram resgatando seu processo (incluindo na história de vida a aprendizagem),
exemplo: como andou? Como falou? Como se adaptou à escola? Como reagiu frente
às tarefas escolares... Posteriormente identificar o quando e o porquê.
A
escola enquanto instituição.
A escola faz parte da vida de ser
humano, ou deveria fazer. Essa instituição, embora seja responsável pela
sistematização da aprendizagem, caracteriza-se como uma referência ligada
fortemente ao processo de aprendizagem como um todo. É como se ela fosse o
marco do inicio do processo de aprendizagem, é do que lembramos quando nos
referirmos às primeiras aprendizagens. Portanto, pode-se afirmar que as
experiências vivenciadas na escola são marcas significativas na aprendizagem,
mostrando a importância de uma instituição educacional não perder o foco do
processo de formação que se configura intrinsecamente ligado ao processo de
sistematização da aprendizagem.
Mesmo refletindo muito sobre o
objeto de estudo da Psicopedagogia, e visto que a aprendizagem está relacionada
com muitos campos da atividade humana, o poder dado à escola para assumir a
responsabilidade sobre esse processo é historicamente relevante.
Portanto, tradicionalmente é
comum nos reportamos instantaneamente à instituição educacional ao
relacionarmos qualquer aspecto sobre aquisição do conhecimento, bem como é
natural que a Psicopedagogia tenha sua origem no âmbito institucional
contextualizado na escola.
A demanda inicial para o
profissional voltado às dificuldades de aprendizagem veio de uma inabilidade
dessa instituição em lidar com os sujeitos que supostamente não aprendiam. A
Psicopedagogia, respondendo a essa demanda, percebeu que a prática clínica não
dava conta de questões que iam além de obstáculos afetivos, cognitivos ou
funcionais, mas que estavam relacionadas às questões institucionais externas aos
próprios sujeitos.
O outro aspecto importante, nesta
questão, foi a possibilidade, a partir do caráter interdisciplinar da
Psicopedagogia, de poder ter no seu corpo teórico um respaldo da Teoria Geral
dos Sistemas. Dessa maneira, o psicopedagogo pode perceber que junto a essa
demanda clínica vem um pedido de “socorro” da própria escola, como se
inconscientemente percebesse a sua responsabilidade no não aprendizado do
aluno.
Portanto, considera-se a
importância da visão sistêmica para a prática da Psicopedagogia no âmbito da
instituição educacional, pois supera a relação de causa e efeito sobre os
fenômenos institucionais, que sustentam o processo de aprendizagem. Segundo
Gasparian (1997,p.56) “(...) pensar a escola à luz da Psicopedagogia, significa
analisar um processo que inclui questões metodológicas relacionais e
socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende,
abrangendo a participação da família e da sociedade”.
A atuação psicopedagógica, no
âmbito da instituição, estará dessa forma dialogando constantemente com esse
complexo que se manifesta como um sistema particular. Caracterizamos, então, o
sujeito da aprendizagem como a própria instituição educacional, com sua
complexa rede de relações, sendo ela uma instituição que aprende a partir das
transformações de seus grupos, seja na dimensão horizontal ( o grupo como
organismo) seja na dimensão vertical (cada membro do grupo).
Segundo Sara Pain (1985, p.12),
[... ] a educação tem como função primeira a
manutenção, a socialização e a transformação do sujeito, mas ao mesmo tempo,
fortalece a repressão que lhe é imposta. A escola tem assumido um papel
institucionalizado dessa ambivalência, sob a égide de sua função educativa. As
representações da aprendizagem que se dão no seu interior, muitas vezes passam
despercebidas em detrimento de um fundamento teórico tradicional.
Jorge Visca (1988, p.178), coloca a
escola como responsável pela sistematização da aprendizagem, isto é,
[...] aquela que se opera no interior da
instituição educativa, mediadora da sociedade, órgão especializado em
transmitir os conhecimentos, atitudes e destrezas que a sociedade estima
necessárias para a sobrevivência, capazes de manter uma relação equilibrada
entre a identidade e a mudança. Estas instituições, além disso, provêm ao
sujeito as aprendizagens instrumentais que irão permitir o acesso a níveis mais
elevados de pensamento.
O psicopedagogo tem, segundo esses
pressupostos, a difícil tarefa de analisar a adequação da estrutura e
funcionamento da instituição, bem como do currículo e métodos de ensino
empregados, desfocando o olhar do aluno, como identificado pela sua
dificuldade, para os fatores intraescolares e interinstitucionais, de ordem
social, econômica e política que envolve a educação.
Saber enfrentar as diferenças do
sistema educativo, e saber como intervir para a aquisição do conhecimento no
interior da instituição educacional, é poder compreender a importância da
intervenção psicopedagógica nos processos do ensino da instituição.
OLIVEIRA, Mari Angela Calderari
Intervenção psicopedagógica na escola.
2º edição Brasil 2009.
