quarta-feira, 6 de março de 2013

A Psicopedagogia é uma interseção entre a Psicologia e a Pedagogia?


Não. Ela é um novo conhecimento que nasce a partir da interseção, é a própria interseção. Isso significa que tanto destas disciplinas, quanto de outras como: filosofia, linguística etc.são selecionados conhecimentos específicos que colaboram na compreensão do objeto da Psicopedagogia (que é o processo de aprendizagem, como constrói o conhecimento) dessa forma, quem fez curso específico de Psicologia, e de Pedagogia, não encontrará necessariamente a Psicopedagogia.
Ela é uma ação que nasce desse conhecimento interdisciplinar, mas essa ação é voltada para subsidiar o sujeito cada vez mais em sua própria aprendizagem, nesse sentido, o processo de aprendizagem é que é estudado criteriosamente pela Psicopedagogia, bem como as dificuldades dela decorrente.
Qual o objeto de estudo da Psicopedagogia?
O objeto de estudo é o processo de aprendizagem, o processo utilizado pelo sujeito enquanto construtor de seu conhecimento. Algumas pessoas, ao estudarem aprendizagem, entendem que o contrário da aprendizagem é a dificuldade da aprendizagem, mas não entendo desta forma, o contrário da aprendizagem é a não aprendizagem.
As causas da não aprendizagem podem ser de três naturezas distintas:
a)      Não aprendem porque não passaram por um processo sistêmico de ensino;
b)      Foram ensinadas, mas por algum motivo externo ao sujeito (didática do professor, filosofia da escola, número de alunos por classe, problema sociais, culturais etc.), não aprenderam;
c)       Finalmente não aprenderam por dificuldades individuais especificas (orgânica e emocional).
Cabe ao psicopedagogo inicialmente diferenciar as situações facilitadoras/dificultadoras pelas quais as pessoas passaram resgatando seu processo (incluindo na história de vida a aprendizagem), exemplo: como andou? Como falou? Como se adaptou à escola? Como reagiu frente às tarefas escolares... Posteriormente identificar o quando e o porquê.
A escola enquanto instituição.
A escola faz parte da vida de ser humano, ou deveria fazer. Essa instituição, embora seja responsável pela sistematização da aprendizagem, caracteriza-se como uma referência ligada fortemente ao processo de aprendizagem como um todo. É como se ela fosse o marco do inicio do processo de aprendizagem, é do que lembramos quando nos referirmos às primeiras aprendizagens. Portanto, pode-se afirmar que as experiências vivenciadas na escola são marcas significativas na aprendizagem, mostrando a importância de uma instituição educacional não perder o foco do processo de formação que se configura intrinsecamente ligado ao processo de sistematização da aprendizagem.
Mesmo refletindo muito sobre o objeto de estudo da Psicopedagogia, e visto que a aprendizagem está relacionada com muitos campos da atividade humana, o poder dado à escola para assumir a responsabilidade sobre esse processo é historicamente relevante.
Portanto, tradicionalmente é comum nos reportamos instantaneamente à instituição educacional ao relacionarmos qualquer aspecto sobre aquisição do conhecimento, bem como é natural que a Psicopedagogia tenha sua origem no âmbito institucional contextualizado na escola.
A demanda inicial para o profissional voltado às dificuldades de aprendizagem veio de uma inabilidade dessa instituição em lidar com os sujeitos que supostamente não aprendiam. A Psicopedagogia, respondendo a essa demanda, percebeu que a prática clínica não dava conta de questões que iam além de obstáculos afetivos, cognitivos ou funcionais, mas que estavam relacionadas às questões institucionais externas aos próprios sujeitos.
O outro aspecto importante, nesta questão, foi a possibilidade, a partir do caráter interdisciplinar da Psicopedagogia, de poder ter no seu corpo teórico um respaldo da Teoria Geral dos Sistemas. Dessa maneira, o psicopedagogo pode perceber que junto a essa demanda clínica vem um pedido de “socorro” da própria escola, como se inconscientemente percebesse a sua responsabilidade no não aprendizado do aluno.
Portanto, considera-se a importância da visão sistêmica para a prática da Psicopedagogia no âmbito da instituição educacional, pois supera a relação de causa e efeito sobre os fenômenos institucionais, que sustentam o processo de aprendizagem. Segundo Gasparian (1997,p.56) “(...) pensar a escola à luz da Psicopedagogia, significa analisar um processo que inclui questões metodológicas relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a participação da família e da sociedade”.
A atuação psicopedagógica, no âmbito da instituição, estará dessa forma dialogando constantemente com esse complexo que se manifesta como um sistema particular. Caracterizamos, então, o sujeito da aprendizagem como a própria instituição educacional, com sua complexa rede de relações, sendo ela uma instituição que aprende a partir das transformações de seus grupos, seja na dimensão horizontal ( o grupo como organismo) seja na dimensão vertical (cada membro do grupo).
Segundo Sara Pain (1985, p.12),
 [... ] a educação tem como função primeira a manutenção, a socialização e a transformação do sujeito, mas ao mesmo tempo, fortalece a repressão que lhe é imposta. A escola tem assumido um papel institucionalizado dessa ambivalência, sob a égide de sua função educativa. As representações da aprendizagem que se dão no seu interior, muitas vezes passam despercebidas em detrimento de um fundamento teórico tradicional.
Jorge Visca (1988, p.178), coloca a escola como responsável pela sistematização da aprendizagem, isto é,
 [...] aquela que se opera no interior da instituição educativa, mediadora da sociedade, órgão especializado em transmitir os conhecimentos, atitudes e destrezas que a sociedade estima necessárias para a sobrevivência, capazes de manter uma relação equilibrada entre a identidade e a mudança. Estas instituições, além disso, provêm ao sujeito as aprendizagens instrumentais que irão permitir o acesso a níveis mais elevados de pensamento.
O psicopedagogo tem, segundo esses pressupostos, a difícil tarefa de analisar a adequação da estrutura e funcionamento da instituição, bem como do currículo e métodos de ensino empregados, desfocando o olhar do aluno, como identificado pela sua dificuldade, para os fatores intraescolares e interinstitucionais, de ordem social, econômica e política que envolve a educação.
Saber enfrentar as diferenças do sistema educativo, e saber como intervir para a aquisição do conhecimento no interior da instituição educacional, é poder compreender a importância da intervenção psicopedagógica nos processos do ensino da instituição.
OLIVEIRA, Mari Angela Calderari Intervenção psicopedagógica na escola.
2º edição Brasil 2009.


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