terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O DIÁRIO DE ANNE FRANK

O DIÁRIO DE ANNE FRANK

ANNE Frank pertencia a uma família judaica de Frankfort que, em 1933, fugindo às perseguições do regime hitleriano, se refugiou na Holanda, onde supunhava encontrar a paz e a segurança. Mas, logo depois da invasão da Holanda pelos alemães, as perseguições aos judeus continuaram por razões políticas ou por discriminações raciais que passavam a ter uma existência ilegal ou clandestina. Durante dois anos, que abrangem o período de guerra de 1942 a 1944, viveu em constante ameaça sem poderem sair à rua vivendo sob a constante ameaça de serem descobertos pela polícia.  Ela inscreve em seus escritos tudo o que se passa no cotidiano dos fugitivos, inclusive sua notória predileção pelo pai, que considerava amoroso e nobre, ao contrário da mãe, com quem a menina estava sempre em confronto.
Comentário acrescentado por Anne em setembro de 1942:
Papai é sempre tão bom! Ele me entende perfeitamente, e eu gostaria que algum dia pudéssemos falar de coração para coração sem que eu caia logo no choro. Mas acho que isso tem a ver com minha idade. Eu gostaria de passar todo o tempo escrevendo, mas isso provavelmente acabaria sendo monótono.
Até agora só contei meus pensamentos ao meu diário. Ainda não consegui escrever esquetes engraçados que mais tarde pudesse ler em voz alta. No futuro, vou dedicar menos tempo ao sentimentalismo e mais tempo à realidade.
Aprendi uma coisa: você só conhece uma pessoa depois de uma briga. Só então, é possível julgar seu caráter.
Sábado, 15 de julho de 1944.
Querida Kitty,
Recebemos da biblioteca um livro com o título polêmico: O que você acha da jovem moderna? Gostaria de tratar desse assunto hoje.
   A escritora critica a “juventude atual” da cabeça aos pés, ainda que não condene todos “ casos sem esperança”. Pelo contrário, ela acredita que os jovens têm o poder de construir um mundo maior, melhor e mais belo, mas que se ocupam com coisas superficiais, sem pensar na beleza verdadeira.
 Em algumas passagens, tive a sensação de que ela dirigia sua crítica a mim, e é por isso que finalmente quero desnudar minha alma para você e me defender dessa agressão.
Tenho uma característica notável que pode ser óbvia para qualquer pessoa que conviva comigo há algum tempo: eu me conheço bastante. Em tudo o que faço, posso me ver como se fosse uma estranha. Posso me afastar da Anne de todos os dias e, sem preconceitos ou sem me desculpar, ver o que ela está fazendo, tanto as coisas boas quanto as ruins.Essa autoconsciência nunca me abandona, e, sempre que abro a boca, penso: “Você deveria ter dito isso de um modo diferente”, ou “Está ótimo assim”. Eu me condeno de tantas maneiras que estou começando a perceber a verdade no ditado de papai: “Todo filho tem de se criar.” Os pais só podem aconselhar os filhos ou apontar a direção certa. Em última análise, a própria pessoa forma seu caráter. Além disso, enfrento a vida com uma reserva extraordinária de coragem. Sinto-me forte e capaz de suportar fardos, jovem e livre! Quando percebi isso pela primeira vez, fiquei satisfeita, porque significa que posso enfrentar com mais facilidade os golpes da vida.
“Bem no fundo, os jovens são mais solitários do que os adultos.” Li isso em algum livro, e ficou na minha mente. Pelo que posso dizer, é verdade.
Então, se você está se perguntando se ficar aqui é mais difícil para os adultos do que para os jovens, a resposta é não, com certeza. Os mais velhos têm opinião formada sobre tudo, são seguros de si e de seus atos. Para nós, jovens, é duas vezes mais difícil sustentar nossas opiniões numa época em que os idéias  são estilhaçados e destruídos, quando o pior lado da natureza humana predomina, quando todo mundo duvida da verdade, da justiça e de Deus.
Qualquer pessoa que afirme que os mais velhos passam por maiores dificuldades no Anexo não percebe que o problema tem um impacto muito maior sobre nós. Somos muito jovens para enfrentar esses problemas, mas eles vivem nos afligindo até que, finalmente, somos forçados a imaginar uma solução, embora na maior parte das vezes nossas soluções desmoronem diante dos  fatos.Numa época assim fica tudo difícil; idéias, sonhos e esperanças crescem em nós, e depois são esmagados pela dura realidade. É incrível que eu não tenha abandonado todos os meus ideiais já que parecem tão absurdo e pouco práticos. Mas me agarro a eles porque ainda acredito, a despeito de tudo, que no fundo as pessoas são boas.
Para mim, é praticamente impossível construir a vida sobre um alicerce de caos, sofrimento e morte. Vejo o mundo ser transformado aos poucos numa selva, ouço o trovão que se aproxima e que, um dia, irá nos destruir também, sinto o sofrimento de milhões. E, mesmo assim, quando olho para o céu, sinto de algum modo que tudo mudará para melhor, que a crueldade também terminará, que a paz e a tranqüilidade voltarão. Enquanto isso devo me agarrar aos meus ideias. Talvez chegue o dia em que eu possa realizá-los!
Eu me perguntei várias vezes se não teria sido melhor não termos nos escondido, se estivéssemos mortos agora e não tivéssemos de passar por toda essa desgraça, especialmente para que os outros fossem poupados desse fardo. Mas nos encolhemos só de pensar. Ainda amamos a vida, ainda não esquecemos a voz da natureza e continuamos com esperança de...tudo.
Que aconteça alguma coisa logo, até mesmo um ataque aéreo! Nada pode ser mais esmagador do que essa ansiedade. Que chegue o fim, mesmo sendo cruel; pelo menos saberemos se vamos ser vencedores ou vencidos.
Eu costumo me sentir mal, mas nunca me desespero. Vejo nossa vida no esconderijo como uma aventura interessante, cheia de perigo e romance, e cada privação é algo divertido a acrescentar no diário. Decidi levar uma vida diferente da de outras garotas, e não me tornar mais tarde uma dona de casa comum. O que estou vivenciando aqui é um bom início para uma vida interessante, e este é o motivo – o único – para eu rir do lado engraçado dos momentos perigosos.
Sou jovem e tenho muitas qualidades ocultas; sou jovem, forte e vivo uma grande aventura; estou no meio dela e não posso passar o dia inteiro reclamando porque é impossível me divertir! Sou abençoada com tantas coisas: felicidade, alegria e força. A cada dia me sinto amadurecendo, sinto a liberdade das pessoas ao redor. A cada dia penso em como essa aventura é fascinante e divertida! Com tudo isso, por que deveria me desesperar? Anne Frank.
Estou cada vez mais independente de meus pais. Mesmo sendo jovem, enfrento a vida com mais coragem e tenho um sentimento de justiça melhor e mais verdadeiro do que o de mamãe. Sei o que quero, tenho um objetivo, tenho opiniões, uma religião e amor. Se ao menos eu pudesse ser eu mesma, ficaria satisfeita. Sei que sou uma mulher, uma mulher com força interior e muita coragem!
Se Deus me deixar viver, vou realizar mais do que mamãe jamais realizou, vou fazer com que minha voz seja ouvida, vou para o mundo e trabalharei em prol da humanidade! Agora sei que primeiro é preciso coragem e felicidade! Sua Anne M. Frank.
Anne morreu em pleno campo de concentração, em Bergen-Belsen, em fevereiro de 1945.O diário original está preservado no Instituto Holandês para a Documentação da Guerra. Os direitos autorais da obra de Anne estão reservados ao Museu Anne Frank, localizado na Suíça. Seu pai Otto Frank empenhou-se o resto da sua vida no combate à discriminação e aos preconceitos. Ele teve um papel ativo na abertura do esconderijo como museu em 1960. Ele respondeu a milhares de cartas de pessoas que tinham lido o diário de Anne Frank. Faleceu em 1980.
O que passou, já não podemos mudar. A única coisa que podemos fazer é aprender com o passado e compreender o que significa a discriminação e a perseguição de gente inocente. A minha opinião é que todos temos a obrigação de combater os preconceitos. (Otto Frank

Todas as pessoas têm um número de direitos fundamentais, tais como a liberdade de expressão, a liberdade de religião e o direito a não ser discriminado.

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