quarta-feira, 6 de março de 2013

A Psicopedagogia é uma interseção entre a Psicologia e a Pedagogia?


Não. Ela é um novo conhecimento que nasce a partir da interseção, é a própria interseção. Isso significa que tanto destas disciplinas, quanto de outras como: filosofia, linguística etc.são selecionados conhecimentos específicos que colaboram na compreensão do objeto da Psicopedagogia (que é o processo de aprendizagem, como constrói o conhecimento) dessa forma, quem fez curso específico de Psicologia, e de Pedagogia, não encontrará necessariamente a Psicopedagogia.
Ela é uma ação que nasce desse conhecimento interdisciplinar, mas essa ação é voltada para subsidiar o sujeito cada vez mais em sua própria aprendizagem, nesse sentido, o processo de aprendizagem é que é estudado criteriosamente pela Psicopedagogia, bem como as dificuldades dela decorrente.
Qual o objeto de estudo da Psicopedagogia?
O objeto de estudo é o processo de aprendizagem, o processo utilizado pelo sujeito enquanto construtor de seu conhecimento. Algumas pessoas, ao estudarem aprendizagem, entendem que o contrário da aprendizagem é a dificuldade da aprendizagem, mas não entendo desta forma, o contrário da aprendizagem é a não aprendizagem.
As causas da não aprendizagem podem ser de três naturezas distintas:
a)      Não aprendem porque não passaram por um processo sistêmico de ensino;
b)      Foram ensinadas, mas por algum motivo externo ao sujeito (didática do professor, filosofia da escola, número de alunos por classe, problema sociais, culturais etc.), não aprenderam;
c)       Finalmente não aprenderam por dificuldades individuais especificas (orgânica e emocional).
Cabe ao psicopedagogo inicialmente diferenciar as situações facilitadoras/dificultadoras pelas quais as pessoas passaram resgatando seu processo (incluindo na história de vida a aprendizagem), exemplo: como andou? Como falou? Como se adaptou à escola? Como reagiu frente às tarefas escolares... Posteriormente identificar o quando e o porquê.
A escola enquanto instituição.
A escola faz parte da vida de ser humano, ou deveria fazer. Essa instituição, embora seja responsável pela sistematização da aprendizagem, caracteriza-se como uma referência ligada fortemente ao processo de aprendizagem como um todo. É como se ela fosse o marco do inicio do processo de aprendizagem, é do que lembramos quando nos referirmos às primeiras aprendizagens. Portanto, pode-se afirmar que as experiências vivenciadas na escola são marcas significativas na aprendizagem, mostrando a importância de uma instituição educacional não perder o foco do processo de formação que se configura intrinsecamente ligado ao processo de sistematização da aprendizagem.
Mesmo refletindo muito sobre o objeto de estudo da Psicopedagogia, e visto que a aprendizagem está relacionada com muitos campos da atividade humana, o poder dado à escola para assumir a responsabilidade sobre esse processo é historicamente relevante.
Portanto, tradicionalmente é comum nos reportamos instantaneamente à instituição educacional ao relacionarmos qualquer aspecto sobre aquisição do conhecimento, bem como é natural que a Psicopedagogia tenha sua origem no âmbito institucional contextualizado na escola.
A demanda inicial para o profissional voltado às dificuldades de aprendizagem veio de uma inabilidade dessa instituição em lidar com os sujeitos que supostamente não aprendiam. A Psicopedagogia, respondendo a essa demanda, percebeu que a prática clínica não dava conta de questões que iam além de obstáculos afetivos, cognitivos ou funcionais, mas que estavam relacionadas às questões institucionais externas aos próprios sujeitos.
O outro aspecto importante, nesta questão, foi a possibilidade, a partir do caráter interdisciplinar da Psicopedagogia, de poder ter no seu corpo teórico um respaldo da Teoria Geral dos Sistemas. Dessa maneira, o psicopedagogo pode perceber que junto a essa demanda clínica vem um pedido de “socorro” da própria escola, como se inconscientemente percebesse a sua responsabilidade no não aprendizado do aluno.
Portanto, considera-se a importância da visão sistêmica para a prática da Psicopedagogia no âmbito da instituição educacional, pois supera a relação de causa e efeito sobre os fenômenos institucionais, que sustentam o processo de aprendizagem. Segundo Gasparian (1997,p.56) “(...) pensar a escola à luz da Psicopedagogia, significa analisar um processo que inclui questões metodológicas relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a participação da família e da sociedade”.
A atuação psicopedagógica, no âmbito da instituição, estará dessa forma dialogando constantemente com esse complexo que se manifesta como um sistema particular. Caracterizamos, então, o sujeito da aprendizagem como a própria instituição educacional, com sua complexa rede de relações, sendo ela uma instituição que aprende a partir das transformações de seus grupos, seja na dimensão horizontal ( o grupo como organismo) seja na dimensão vertical (cada membro do grupo).
Segundo Sara Pain (1985, p.12),
 [... ] a educação tem como função primeira a manutenção, a socialização e a transformação do sujeito, mas ao mesmo tempo, fortalece a repressão que lhe é imposta. A escola tem assumido um papel institucionalizado dessa ambivalência, sob a égide de sua função educativa. As representações da aprendizagem que se dão no seu interior, muitas vezes passam despercebidas em detrimento de um fundamento teórico tradicional.
Jorge Visca (1988, p.178), coloca a escola como responsável pela sistematização da aprendizagem, isto é,
 [...] aquela que se opera no interior da instituição educativa, mediadora da sociedade, órgão especializado em transmitir os conhecimentos, atitudes e destrezas que a sociedade estima necessárias para a sobrevivência, capazes de manter uma relação equilibrada entre a identidade e a mudança. Estas instituições, além disso, provêm ao sujeito as aprendizagens instrumentais que irão permitir o acesso a níveis mais elevados de pensamento.
O psicopedagogo tem, segundo esses pressupostos, a difícil tarefa de analisar a adequação da estrutura e funcionamento da instituição, bem como do currículo e métodos de ensino empregados, desfocando o olhar do aluno, como identificado pela sua dificuldade, para os fatores intraescolares e interinstitucionais, de ordem social, econômica e política que envolve a educação.
Saber enfrentar as diferenças do sistema educativo, e saber como intervir para a aquisição do conhecimento no interior da instituição educacional, é poder compreender a importância da intervenção psicopedagógica nos processos do ensino da instituição.
OLIVEIRA, Mari Angela Calderari Intervenção psicopedagógica na escola.
2º edição Brasil 2009.


VIDA HUMANA.



O homem é um ser que busca a possibilidade de desencadear a vida com toda plenitude, um ser que, com toda ansiedade, quer viver. O homem vive a feliz angústia do querer viver, do querer ser alguém junto a alguém. A grande meta do homem é ter uma vida feliz; para isso, ele se empenha com todas as suas forças. A vida não lhe é dada como uma dádiva, mas é uma conquista que exige esforço, trabalho, labuta e, até mesmo, sofrimento.
Querer viver é o grande problema e a suprema felicidade do homem. Mas o viver não é um simples estar aqui ou ali. O homem é um ser que se projeta para o mundo e para a existência. É um ser que vai além do “agora” delimita o ser pessoal no tempo e na angústia do “agora”, do “aqui” e do “ali”. Ele busca o tempo que se revela em existência e vida, em possibilidades que são esperanças de amor, fé e libertação, possibilidades que destroem a angústia do “agora” para se tornarem manifestação de vida.
A pessoa é o ser aberto para o mundo e para a vida e seu anseio é sempre, e cada vez mais, viver, viver plenamente.
O viver não é uma dádiva, mas uma conquista sem limites é uma busca que se desencadeia no espaço e no tempo, porque a vida é o essencial para o ser pessoal.
A pessoa cria à sua volta uma relação de presença e encontro pessoal, estabelece uma relação de envolvimento, de participação, de entendimento, de fé, de esperança e amor com o mundo e com a vida.
O homem quer viver e para isso se despoja de si mesmo em busca daquilo que, as vezes, lhe parece necessário. Mas essa busca não é apenas obra do acaso, do instinto ou do destino, é também consequência da total e plena consciência de ser existencial, do querer livre e consciência, da responsabilidade.
Querer viver é a angústia e a esperança libertadora da pessoa. Não uma angústia de morte, mas de esperança, de fé e de amor pela vida. O desejo profundo e único do homem é vover sempre melhor.
A pessoa se torna cada vez mais pessoa à medida que toma consciência, da realidade. Sempre que a pessoa tenta libertar-se e busca o universo pessoal, com autenticidade e liberdade, com espírito aberto e crítico, ela se despoja de todas as banalidades que não a deixam viver.
Diríamos que o único e exclusivo objetivo neste mundo é buscar o viver. Para viver, o homem enfrenta tudo. Se parássemos e contemplássemos o homem, onde quer que ele esteja, e nos perguntássemos sobre o que ele deseja neste mundo, a resposta seria só: VIVER. Viver uma vida feliz, pois o alvo da vida é encontrar a felicidade.
O ser humano quer vencer a dor, superar as dificuldades que o impedem de se realizar. O homem busca, através das ciências, respostas para os problemas existenciais. Realiza todos os esforços para superar as dificuldades. Procura superar, inventar, criar, descobrir, fazer, sempre em busca do que é essencial: A VIDA. O homem é um ser que procura, com consciência e esforço, vencer os obstáculos que a vida lhe impõe. O homem tem de fazer a sua vida, que é para ele, como diz o ORTEGA Y GASSET, “a realidade radical”. Se cada homem tem de fazer o seu quefazer, deve aprender a fazer a vida e vivê-la.
Será que a educação realmente ajuda o homem a fazer o seu quefazer, a viver bem a vida? Será que a nossa educação não afasta o homem da vida? Não será ainda a nossa educação “um massacre dos inocentes que desconhece a personalidade da criança como tal, impondo-lhe um resumo das perspectivas do adulto, as desigualdades sociais forjadas pelos adultos, substituindo o discernimento dos caracteres e das vocações pelo formalismo autoritário do saber”(MOUNIER)?
Parece que nossa educação destrói personalidades, destruindo a alegria e a felicidade. Nosso ensino impede o palpitar dos corações pela imposição de conhecimentos que não atingem a alma do educando, mas simplesmente o cérebro e o intelecto.
De fundamental importância nos parecem as palavras de J. Dewey, quando nos diz: “Nós fizemos de nossas escolas lugares onde sopra quase sempre o vento das palavras, isto é, para alguém que tem sede de vida, o vento gelado da morte. A vida! A vida! AH! Se nós queremos a vida coloquem-nos na vida. Vejamos o homem como é e aspira a ser. Ouçamos bater o seu coração, palpitar os desejos e coloquemo-lo num clima capaz de alimentar e fazer crescer o seu organismo físico e moral. Aprender? Certamente, mas antes de tudo VIVER e APRENDER PELA VIDA E NA VIDA”.
Aprender a viver, aprender a ser é a grande questão que a educação deve se colocar e que as escolas e professores necessitam questionar. A escola e os professores devem se perguntar até que ponto estão educando para a vida. Até que ponto estão ajudando as nossas crianças a aprenderem não só a enfrentar a vida, mas a viver a vida com amor, alegria e felicidade. Parece-nos que o mundo está precisando mais de amor, de paz do que do domínio da técnica, que, por vezes, embrutece o homem.
Na educação e no ensino, o objetivo fundamental é o encontro da felicidade e não somente a aquisição de conhecimentos: se eles não tornarem a pessoa feliz; a sua finalidade não será outra senão a deformação. O ensino não pode se limitar à aquisição passiva e artificial de conhecimentos que não servem de respostas às experiências diárias. Todos os conhecimentos assimilados devem ser eminentemente educativos e formadores de personalidades, respondendo às necessidades e urgência da pessoa, fornecendo-lhe as melhores condições para o crescimento pessoal. Separar o ato educativo do ato de ensinar seria fazer uma cisão muito profunda na formação.Seria separar o intelecto das emoções e sentimentos.


Ilza Martins Sant’ Anna
Maximiliando Monegolla – Didática: Aprender a ensinar.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Processo de Avaliação e Intervenção em Psicopedagogia



AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA.

Se nosso trabalho se desenvolve a partir do processo de aprendizagem e todos os seus determinantes, chegamos, enfim, em um ponto importantíssimo para nossa prática psicopedagógica que é a investigação de porque uma criança, um adolescente não está aprendendo dentro dos padrões estabelecidos pela escola, pela família e até mesmo pela sociedade.
Investigar, no sentido aqui empregado, diz respeito à avaliação que o psicopedagogo deve desenvolver no intuito de penetrar nas razões que impedem um sujeito de aprender. Portanto, avaliação= investigação.
Partiremos da queixa. Mas que é uma queixa? A queixa se constitui de uma reclamação, de um sintoma, de algo que não vai bem com o sujeito, neste caso, com seu processo de aprendizagem. Essa queixa deve ser investigada pelo Psicopedagogo com intuito de esclarecer o por quer da não aprendizagem, o motivo da reclamação – seja da família, da escola e até mesmo do próprio sujeito.
Ressaltamos, então, que o psicopedagogo precisa “ouvir” esta queixa, analisá-la, interpretá-la e, assim, seguir no seu processo de investigação/avaliação.
Vemos que é comum comentários do tipo: “Não sei o que fazer com este aluno, eu explico, explico e ele não assimila nada”. “Este aluno não presta atenção na aula, só vai bem  em português”. “Este aluno não vai bem na escola e a família não ajuda em nada”.
Acho que conseguiríamos listar, facilmente, uma infinidade de queixas apresentadas pelos professores acerca de seus alunos. E quanto a família? Bem, a família também reclama. É comum encontrar famílias que procuram o psicopedagogo porque acreditam que seu filho precisa de ajuda de um profissional. Portanto, a família também tem um posicionamento, uma visão a respeito da não aprendizagem do filho. Além disso, cabe ao Psicopedagogo ouvir o sujeito, ou seja, qual a queixa que o sujeito faz de si mesmo? E nesse caso, destacamos que é comum o sujeito argumentar que: “não consigo aprender, acho que não sou capaz”; “não consigo entender o que o professor fala”; “sou relaxado, não presto atenção na aula”. Lembre-se que esta “escuta é muito importante uma vez que sua investigação tem como ponto de partida a queixa apresentada pela escola, pela família e pelo sujeito.
O conceito e a aplicação dos instrumentos de avaliação mais utilizados no contexto psicopedagógico clínico. Vale salientar que não existe um modelo pronto e acabado de avaliação psicopedagógica. Não há como dizer a você que basta aplicar estes ou aqueles instrumentos e pronto-descobriu-se e resolveu-se a dificuldade de aprendizagem do sujeito. Que bom se assim fosse!
Apresentaremos alguns instrumentos formais que são utilizados em sessões diagnósticas, mas, desde já, destacando que estes são apenas referenciais. Lembre-se que cada caso é um caso em particular. O que pode dar certo com um sujeito, pode não surtir o mesmo efeito com outro.
O que você não pode perder de vista é que seu sujeito é acima de tudo:
-Cognitivo;
-Afetivo;
-Social;
-Pedagógico;
-Corporal.
O que queremos dizer com isto? Que o sujeito faz parte de um todo e não podemos identificá-lo por partes. Este é o olhar que você precisa ter ao aplicar um instrumento de avaliação. Faz-se necessário perceber que o sujeito que está a sua frente possui conhecimentos, afetos, se relaciona com os outros, faz parte de um contexto escolar, se organiza de uma determinada maneira. Enfim, este é o sujeito que o psicopedagogo precisa perceber.
Para tanto, há instrumentos formais, porém, ouse a ser criativo, pesquise e vá além dos que aqui iremos trabalhar. Vamos, então, conhecer alguns instrumentos de avaliação que o psicopedagogo pode utilizar durante as sessões, diagnósticas?
- Entrevista Operatória Centrada na Aprendizagem – E.O.C.A.
- Sessão Lúdica ou Observação Lúdica;
- Provas Operatórias;
- Provas Projetivas Psicopedagógicas;
- Provas Pedagógicas;
- Anamnese;
-Entrevista com a Escola
- Prova e Testes Complementares.
Antes de esclarecermos sobre cada um dos instrumentos de avaliação elencados, convém discutirmos um pouco sobre a postura do psicopedagogo quando da aplicação das provas e desenvolvimento das entrevistas.
- Controle sua ansiedade diante do sujeito. Fique calmo e comece a estabelecer um vínculo com ele. Isto é essencial para o desenvolvimento de sua avaliação diagnóstica.
- Evite usar expressões como: muito bem, parabéns, você está fazendo direitinho a tarefa. Essas expressões acabam por reforçar atitudes no sujeito. O que o sujeito pensará quando você não utilizar estas palavras? Cuidado até mesmo com sua entonação de voz.
- Evite fazer “caras e bocas”. Isto é, expressões faciais que denotam aprovação ou reprovação diante do sujeito. Ao olhar nossa expressão o sujeito perceberá se o que está fazendo está certo ou errado. O importante na avaliação psicopedagógica é o que o sujeito sabe fazer, o que ele pode e consegue executar, não o que queremos que ele faça. Tente, então, ficar com “cara de paisagem”. (Que tal treinar um pouquinho?).
- Seja verdadeiro, não invente desculpas e/ou histórias se o sujeito lhe fizer questões quanto ao trabalho que está sendo realizado. “Jogo aberto” nesse momento.
- Trabalhe com a ansiedade e angústias dos pais e da escola. Explique acerca do trabalho que vem realizando, mas não deixe que isto atrapalhe o desenvolvimento de suas atividades.
- Você pode optar por se sentar de frente ou ao lado do sujeito durante a aplicação das provas. Veja como fica melhor para você.
- Estude sobre o instrumento a ser aplicado.
- Atenção quanto ao vocabulário utilizado. Evite usar termos complexos, faça uso dos sinônimos.
- Você pode fazer anotações durante a aplicação das provas. Apenas não se desespere diante do sujeito como se quisesse anotar até mesmo sua respiração. Você também pode fazer uso do gravador, porém, desde que haja autorização do sujeito e isto não sirva como um inibidor.
- Escolha um ambiente tranquilo, calmo, sem interferência de outros. Escolha um local onde fique apenas você e o sujeito.
- Preste atenção em tudo. Qualquer comentário, qualquer conduta,qualquer produção do sujeito é importante para o diagnóstico psicopedagógico.
- Seja você e perceba que a sua frente existe um “ser humano”.
Entrevista Operativa centrada na Aprendizagem.
A Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem - E.O.C.A. foi elaborada por Jorge Visca (1987) com o intuito de “permitir ao sujeito construir a entrevista de maneira espontânea, porém dirigida de forma experimental” O autor sugere que a E.O.C.A. seja desenvolvida como uma forma de primeiro contato com o sujeito, uma primeira entrevista. A proposta de atividade e também os materiais podem variar de acordo com o sujeito a ser avaliado. Use o bom senso.
Em geral, a lista de materiais durante a entrevista é composta de: folhas brancas, papel pautado, folhas coloridas, lápis preto novo sem ponta, apontador, régua, tesoura, cola, revistas e livros.
O procedimento consiste em apresentar os materiais ao sujeito e solicitar que este mostre o que sabe fazer, o que aprendeu, o que tem vontade de fazer. Para tanto, o psicopedagogo pode fazer uso de inúmeras consignas, tais como:
Aberta: Gostaria que você me mostrasse o que sabe fazer. Esse material é para você utilizar como quiser.
Fechada: Gostaria que você me mostrasse outra coisa que não seja...Me mostre algo diferente do que você já mostrou.
Direta: Gostaria que você me mostrasse algo de matemática, escrita, leitura etc.
Múltiplas: Você pode ler, escrever, pintar, desenhar, recortar etc.
Pesquisa: Para que serve isto,o que você fez, que horas são, que cor você está utilizando etc.
Durante a E.O.C.A. preste atenção no que o sujeito diz,no que o sujeito faz e na produção desenvolvida por ele. As atitudes, os conhecimentos que demonstra, enfim, atente-se aos aspectos relevantes e que possam requerer aprofundamento durante as próximas sessões. Ah! Não esqueça de fazer uso de suas anotações durante todo o processo de entrevista.
Visca (1987) propõe que a partir desta análise seja possível desenvolver o Primeiro Sistema de Hipóteses e assim dar continuidade ao processo diagnóstico uma vez que este estabele quais as linhas de investigação que o psicopedagogo deve investir seus esforços. Lembre-se que as hipóteses são levantadas de acordo com as observações e intervenções desenvolvidas durante a E.O.C.A.

SESSÃO LÚDICA OU OBSERVAÇÃO LÚDICA.
A sessão Lúdica ou Observação Lúdica, como o próprio nome já sugere, envolve o brincar, o lúdico no diagnóstico psicopedagógico. O brincar consiste em uma forma de expressão e, neste sentido, pode contribuir com o processo de avaliação diagnóstica, uma Vaz que ao brincar o sujeito revela pensamentos, ações, atitudes, e que talvez não pudessem ser observados em outras entrevistas.
Questões afetivas e sociais podem emergir na medida em que brincamos. Certa vez, em uma Sessão Lúdica, uma criança disse: “Eu vou brincar de uma coisa. Só que não vou brincar do que eu estou pensando, porque senão você (o psicopedagogo) vai descobrir coisas sobre mim”. Esse comentário nos mostra o quanto esse instrumento de avaliação pode nos auxiliar no diagnóstico psicopedagógico.
A Sessão Lúdica também pode ser utilizada como uma primeira forma de contato com o sujeito. Sua aplicação consiste em selecionar jogos e materiais lúdicos, de acordo com a faixa etária do sujeito, e solicitar que este brinque e faça aquilo que deseja.
Atenção com os materiais selecionados. Prefira coisas mais simples, mais baratas e menos sofisticadas. Exemplo de materiais: jogos comerciais (dominó, damas, memórias etc.), materiais de artes, sucata, fantoches, brinquedos de “casinha,” brinquedos de “escolinha” etc. Não esqueça da faixa etária a que se destina os materiais.
(Autora: Shiderlene Vieira de Almeida Lopes)











sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

REFLEXÕES SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO MUNDO CONTEMPORÂNEO.



Quando falamos sobre dificuldade de aprendizagem, estamos falando, principalmente, do ato de aprender. Aprender é uma ação que supõe dificuldade; quando não se sabe, sendo o não saber condição necessária para aprender, é esperado que as dificuldades apareçam. Temos,portanto, dificuldades que nos desequilibram e na busca do equilíbrio, aprendemos. O fato de estarmos mergulhados num mundo de consumo, que apregoa a perfeição, de termos pressa para tudo, de acreditarmos que as pessoas devem ser regidas pelos prazeres, de acharmos que tudo que não acontece como esperamos é doença, de termos sempre um remédio para os males existentes faz com que acreditemos que ter dificuldades para aprender é algo inconcebível.
Queremos chagar a tal grau de perfeição que pensamos que ter dificuldade é ruim, que nos faz diferentes dos outros, que nos afasta dos anormais e que nos faz acreditar que somos menos.Esquecemos que é a dificuldade que nos faz crescer, que nos obriga a pensar, que nos estimula a buscar alternativas e a encontrar soluções para os problemas que a vida nos impõe.
Atualmente, temos percebido dois movimentos decorrentes das dificuldades para aprender: um deles que protege demais o sujeito que vive a dificuldade e outro que o exclui completamente das rodas consideradas normais. Tanto um quanto outro apresentam resultados muito semelhantes: o primeiro não acredita que o sujeito possa desenvolver suas possibilidades  e, por isso, protege-o para evitar embates nos quais o sujeito possa se dar conta de que não sabe; o segundo afasta o sujeito por acreditar que ele não será capaz de acompanhar seus colegas, anunciando que ele não sabe e nem tem chance de saber.
Protegendo ou atacando, incluindo ou excluindo, temos mandado a mensagem de que o aprendiz que apresenta dificuldades com a aprendizagem, ou dificuldades para aprender, ou ainda dificuldades de aprendizagem, tem poucas chances neste mundo do instantâneo ,consumista, individualista, que cultua a perfeição. Por que será tão difícil admitirmos algo que faz parte do desenvolvimento humano: a dificuldade?
Temos lidado com o ser humano de tal forma que ele tem ficado escondido atrás de suas dificuldades. Ouvimos as pessoas referindo-se a outras pessoas:  “O sujeito é disléxico”,” meu filho é hiperativo”, “ Minha filha é distraída”, “Meu aluno é inibido” e assim por diante.
Penso que as pessoas não são as suas dificuldades. Penso que as pessoas possuem dificuldades, apresentam dificuldades, mostram dificuldades, mas não precisam carregar um fardo de aparecerem ser o que não são. Uma criança que não sabe ler não é a sua dificuldade para ler, e sim possui dificuldades de linguagem que podem ser passageiras ou não, mas que podem ser trabalhadas na direção da mudança, ao passo que ser disléxico resulta em um título difícil de ser modificado. É como se a pessoa não tivesse a chance de, mesmo apresentando um quadro de dificuldades de linguagem, superar obstáculos e tornar-se um escritor, por exemplo. O mesmo que acontece com outros quadros, e percebo que, quando umas criança recebe um “título”, mesmo que ela esteja superando-o, a escola quando se refere a ela, em outros momentos históricos, lembrando que um dia ela distraiu-se, um dia ela bateu em um amigo, um dia ela agitou-se...
Na minha experiência, tenho percebido que, anos mais tarde, algumas escolas ainda lembra o motivo que fez com que elas pedissem o atendimento psicopedagógico para uma determinada criança, como se o fato tivesse acontecido no dia anterior, independente da permanência do sintoma inicial.
As vezes, surpreendo-me dizendo: “Mas ele ainda faz isto?” E somente aí a professora dá-se conta de que ela está falando de um menino real, não daquele que está estigmatizado em sua mente. O mesmo acontece com os pais. Por mais controlado que possa estar o quadro, muitas vezes os pais temem se decepcionar e, por isso, ficam sempre esperando o surto ou qualquer que seja o aspecto que considerem negativo e acreditam possa aparecer no comportamento do filho.
Se conseguirmos considerar a dificuldade como parte integrante da aprendizagem, será muito mais fácil lidarmos com ela. Independente se a pessoa apresenta um quadro de dificuldade orgânica, emocional, social, patológico ou não, a dificuldade deve ser encarada como elemento próprio do desenvolvimento daquele sujeito.
Todos poderemos aprender, apesar de nossas dificuldades; sem elas, certamente não cresceríamos.Uma criança de dez anos, por exemplo, que não está alfabetizada, apresenta esse dado que precisa ser enfrentado em seu processo de aprender. De nada adianta considerarmos sua dificuldade de leitura como uma entidade à parte, pois isso torna sua aprendizagem mais difícil e mais inatingível.
Hoje, conversava com uma criança de seis anos que me dizia: “Eu não sei ler e nem escrever, por isso você nunca pode me pedir que faça isso”. Nessa frase, a criança diz que ela colocou sua dificuldade em outro plano, no qual ela acredita que nunca será mexida. Como essa criança poderá aprender se ela acredita que nunca aprenderá; se a professora acredita que ela não consegue aprender; se a mãe acredita que ela precisa é ser feliz e, se não aprender, não tem importância? Se, ao menos, alguém acreditasse nas suas possibilidades, no tempo que é necessário para que a alfabetização aconteça no processo de maturação a partir da interação, no fato de que crianças de seis anos, às vezes, não aprendem com seis anos, mas podem aprender com sete anos, essa criança estaria protegida de um grande fardo chamado incapacidade.
Essas reflexões podem nos auxiliar a encontrar um caminho para uma Educação para a Diversidade que valorize os indivíduos, mas também considere o grupo, a coletividade. O aprender acontece dentro de cada um de nós, mas é fruto da interação com o espaço coletivo. Se todos aprendêssemos a conhecer nossas possibilidades e nossas limitações, isso poderia nos aproximar muito mais da realidade, aquela que supõe que, para aprender, é preciso não saber e que não saber, muitas vezes, faz com que tenhamos dificuldades maiores ou menores, mas que tais dificuldades, certamente, não somos nós.
(Laura Monte Serrat Barbosa) Pedagoga, psicopedagoga, mestre em Educação.